Para uma entidade que nasceu há mais de vinte mil anos atrás, sendo portanto, mais velho que o Raul Seixas, sei qual é a frase mais pronunciada em toda história da humanidade, independente do idioma, é esta: "Olha, uma barata!"

A esquina do além também tem suas baratas. Mas elas são metafísicas. Foi lá que encontrei o espírito da Amy Winehouse. Estava com uma ressaca também metafísica.

- Amy, soube que não encontraram nenhum vestígio de drogas ou álcool em seu corpo.

A miss Winehouse, com um ar de pesar, disse:

- Nem era para ter, Jovem Preto Velho. Naquele dia, não tomei nada. Não havia nada em casa. Meu pai, um dia antes, visitou-me e levou tudo o que pudesse curtir. No dia seguinte, morrendo de sede, arrisquei tomar água. O corpo não aguentou o tranco.

Para que o Rogério de Moura, médium cinematográfico que me incorpora, aguentasse o tranco, fiquei um bom tempo sem incorporar no coitado. Isso porque ele me pediu um tempo para pré-produzir o piloto da websérie "Como Ser Negro no Brasil e Não Pirar", até que concluísse a edição. Tempo abreviado. No final do único dia de gravação, estafado, sem inspiração, e principalmente, pensando nas dívidas que adquiriu para produzir a bagaça, pediu-me o afro-cineasta que incorporasse e interpretasse um negro enlouquecido para ele. Foi o que fiz e o resultado pode ser conferido logo abaixo.

Esse está longe de ser o meu único trabalho na Sétima Arte. Alguns mitos de Hollywood foram laureados com o Oscar graças à minha interpretação. Momentos antes do diretor berrar o action!, eu incorporava e mandava ver. Ao final da cena, os atores não faziam a mínima idéia do que haviam feito. A cena em que Denzel Washington chora sob as chibatadas e que lhe valeu o Oscar... Era eu. Interpretações premiadas como a de Gary Cooper em "Matar ou Morrer",  Spencer Tracy em "Com os Braços Abertos", Al Pacino em "Sérpico", Dustin Hoffman em "Rain Man" contaram com minha contribuição.

O Heath Ledger surpreendeu a todos com uma ótima atuação em "Batman - O Cavaleiro das Trevas". Alguns desses momentos brilhantes foram durante minhas incorporações. Assim que desencarnou, o ator veio à esquina do Além para me agradecer.

Para minha revolta o Leonardo DiCaprio não conquistou o Acacemy Awards pelo seu papel em "Titanic". Mas aquela cena no navio, na qual ele grita "Eu sou o rei do mundo!" é minha e ninguém tasca. O DiCaprio nem se recorda das gravações daquela cena. Originalmente, era para dizer uma bobagem: "Eu sou o rei dos sete mares!". Além de incorporar, improvisei.

Talvez por isso nunca encarnado em político brasileiro: são ótimos atores.

Eparrei!
O jogador de futebol brasileiro representa bem a “alma brasileira”.Será?

No lugar de procurar suar a camisa e dar o seu melhor para o time, ficam o jogo inteiro tentando enganar o juiz, simulando faltas e agressões, ou fingindo-se agredidos com uma teatralidade de fazer o pior dos atores corar de vergonha.

Eles não se preocupam mais com a tática, a técnica. Preocupam-se exclusivamente com o juiz. O time vencedor é o time que consegue dominar o árbitro. 
 
Há jogadores que avançam sobre o adversário preparando uma rasteira assassina já com as mãos levantadas. O que significa levantar as mãos? Que o golpe que aplicou no adversário não foi intencional?
 
Quando o árbitro apita falta para um dos times tem, diante de si, vinte e dois jogadores o cercando e berrando. O time contra qual foi apitada a infração, porque o juiz deu falta. O time do jogador agredido pedindo para que o árbitro aplique o cartão amarelo ou, melhor ainda, o vermelho.
 
Pobre árbitro de futebol, sem margem para fazer o seu trabalho com o mínimo de concentração. Como apitar um jogo com todo mundo querendo te ludibriar? Deveriam colocar diretores de cinema e teatro para apitar as pelejas e, assim, analisar as "atuações" dos boleiros. Seus fingimentos, suas dissimulações.

Nossos boleiros começam miudinhos, humildes, em um time modesto. Mal conseguem uma vaga em um time grande e só levam a sério o salário, os contratos publicitários e as noitadas. Ah, e claro, os salões de beleza. Futebol mesmo, é uma vaga lembrança dos tempos em que residiam na famigerada cidade de Pindaíba.

Não bastasse a corrupção da cartolagem, agora temos os nossos boleiros dando aulas de como ser desonesto para quem quiser ver, para milhões de espectadores ligados na televisão.

Mas tudo é permitido. Afinal, é o tal do "estilo" do jogador sul-americano.

"Enquanto isso, na arquibancada, todos os torcedores estão cantando, sucessos populares."

Eparrei!