As universidades particulares
tornaram-se verdadeiros clubes para venda de diplomas. Tem
lanchonete, academia, lojas... E, de quebra, uma sala de aula. Os
professores que ousam cobrar mais aplicação de seus alunos levam
reprimendas dos donos das faculdades pois, afinal, o aluno é um
cliente. Estão pagando pela mensalidade, com direito a um diploma no
final do curso independente de aprenderem ou não. Não podem ser
contrariados em hipótese alguma. Diante dessa benesse, os botecos
próximos às faculdades tem mais alunos que as salas de aula. Esse é
um dos motivos para que uma horda de profissionais, advogados,
arquitetos, engenheiros, administradores, publicitários que escrevem
"quiser" com "z" e "açúcar" com "ss"
esteja sendo despejada no mercado de trabalho anualmente.
Anualmente, pouco mais de sete por
cento dos bacharéis em Direito conseguem passar no exame da OAB. A
grande deficiência dos candidatos não é Física Quântica,
Química, Biologia. É o bom e velho Português.
As autoridades responsáveis pela
Educação, diante desse quadro tenebroso, num rompante de
genialidade, em vez de debater soluções para o ensino, acharam mais
fácil questionar o exame da OAB.
O governo, preocupado com a delicada
situação do ensino de Língua Portuguesa, estuda a criação de uma
Medida Provisória proibindo os compositores de axé, pagode e
sertanejo de utilizarem "ão" em suas rimas.
Essa decisão parte do princípio de
que, como essas canções atingem o imaginário popular com maior
facilidade, com um vocabulário mais variado e elaborado, possam
melhorar o Português das classes B, C e D. Outro efeito benéfico
dessa medida seria fazer com que as músicas de axé, pagode e
sertanejo tenham qualidade literária dignas de um Chico Buarque.
A ACASPA - Associação dos
Compositores de Axé, Sertanejo e Pagode, sabendo da Medida
Provisória, decidiu promover um movimento nacional pelo uso livre
das rimas em "ão". Há rumores de que haverá uma passeata
até Brasília. Na ocasião, os compositores, em marcha, entonando o
bordão: "o ão é para todos".
Os compositores temem também que, se a
Medida Provisória vier à tona, futuramente seja estendida às rimas
que terminam em "ar", "inho" e "ente".
Estou pensando seriamente em incorporar no Rogério e acompanhar a
tal passeata. Convenhamos, sem rimas terminadas em “ão”, “inho”,
“ar” e “ente” não há como se compor letras de axé,
sertanejo ou pagode. Essas músicas correm o risco da extinção, num
prejuízo cultural tão grave quanto a destruição da Biblioteca de
Alexandria.
Compositores de axé, pagode e
sertanejo, uni-vos!
Eparrei!
Banda Araketu, um clássico!