Sincrético: relativo ao sincretismo ou onde ele exista. Sincretismo, segundo a Encruzilhadapedia, trata-se da fusão de dois ou mais elementos culturais antagônicos num só elemento, continuando porém perceptíveis alguns sinais de suas origens diversas.

Os descendentes de africanos nas Américas sempre foram, apesar de todas as notórias tempestades e furacões que enfrentou ao longo da história, mestres na arte do sincretismo, da fusão, em manter as tradições culturais diante da opressão. Seria chover no molhado enumerar os exemplos de influência africana incrustadas na cultura brasileira.

No caso da América do Norte, não fosse esse sincretismo cultural, não teríamos o blues e o jazz. O que seria da música pop hoje em dia sem esses berços musicais?

É também o caso da Kwanzaa, que se celebra durante os dias 26 de Dezembro a 1 de Janeiro, coincidindo com o período do Natal Cristão (e também do Judaico Hanukkah) e Ano Novo.

A palavra Kwanzaa é derivada da expressão Kiswahili, uma língua bantu, “matunda ya kwanza”, ou seja, os “primeiros frutos”, ou “começo”, fazendo alusão ao ato da criação, como ocorre no Natal cristão.

Abrange rituais, diálogos, narrativas, poesia, dança, canto, batucada e outras festividades. No princípio, era celebrado exclusivamente pelos negros norte-americanos, ganhou simpatizantes pelo mundo, inclusive pelo Brasil e pelas bandas do Além. O Kwanzaa celebra a valorização da vida em comunidade, das crianças e da Vida.

Como uma boa entidade, resolvi celebrar o Kwanzaa no mundo extra-carnal. Convidei algumas entidades. Várias delas famosas quando vivas. Deixei o Rogério de Moura, médium cinematográfico que me incorpora, de folga de nossas sessões. Pudera, nessa época, ele costuma a, como diz o povo, encher o latão e, como sabemos, não é muito indicado incorporar em bêbados. O Rogério disse que nesse Natal não iria exagerar. Mas resolvi dar-lhe esse tempo de folga para que comemorasse junto com seus familiares. Ele pretendia chamar vários amigos e parentes. Inclusive sua querida prima Dirce, a mau humorada. Mas segundo me disse, ela preferiu ficar em casa, diante da TV, xingando os filmes de Natal.

Para o meu Kwanzaa, convidei o Michael Jackson e a Amy Winehouse. Não vieram porque a festa com o Elvis era, obviamente, muito melhor. Convidei o Noel Rosa, o Ataulfo Alves, o Pixinguinha, o Evaldo Braga. Ninguém veio. Mas recebi a visita de outros espíritos de sambistas e vários ex-jogadores de futebol, tornando meu Kwanzaa muito animado.

O que surpreendeu a todos foi uma visita que chegou de surpresa. Alguém olhou no horizonte etéreo e viu uma entidade aproximando-se: "Olha quem vem lá!" E todos ficaram muito espantados. Era o fígado do Zeca Pagodinho!

Feliz Kwanzaa!
 
 
Dirce da Silva, mas a chamam de Dirce Trovoada, a mau-humorada. É uma querida prima distante, de quem alguns querem distância. Mas como eu a amo, sempre a convido para visitar minha casinha de sapê. Eternamente mau-humorada, virou lenda entre os familiares e conhecidos: 
 
Não chorou quando nasceu. Limitou-se a xingar o médico pelas palmadas: "Vou comunicar o Conselho Tutelar!" dizem alguns, foram suas primeiras palavras. 
 
Em suas veias não corre sangue, é também o que dizem: corre café sem sal e suco de limão. 
 
Xinga o calor, xinga o frio, xinga quando chove e quando não chove.

Certa vez, quando servi café para a Dirce, ela reclamou que estava frio e sem canela. "Como sempre!", segundo suas palavras. De tanto pedir, finalmente, em um dia de visita, servi-lhe café, com um pouquinho de canela. Antes de provar, Dirce já foi sentenciando: "Sem canela, de novo!" Eu lhe disse: "Dessa vez, botei canela." E então, ela veio com essa: "Botou só pra me contrariar".

Lembro-me de uma vez em que ela estrebuchou diante da televisão, por ver um pastor evangélico avacalhando as religiões afro. Concordei com ela. Gerações e gerações de tradições afro-brasieiras sendo achincalhadas, numa implacável campanha de bani-las da cultura nacional jamais feita. Todos que praticam as tradições afro-brasileiras viraram "servidores do demônio" segundo os pastores. Mas a Dirce também ataca cada pessoa que, de sua forma, procura defender as religiões afro. Em sua maneira de enxergar o mundo, há apenas uma estrada. Partidos de esquerda geralmente tem uma visão assim. Digo isso longe de defender a esquerda ou a esquerda. É tudo a mesma coisa. Mas assim como não existe uma única maneira de uma pessoa demonstrar amor por um ente querido. Existem várias maneiras. Algumas podem não combinar com o jeito de ser de determinada pessoa, mas esta não pode julgá-la como incorreta. Mas a Dirce não quis saber da minha argumentação. Um dia, não resisti de lhe disse: "Dirce, se liga, minha filha! Você ataca quem avacalha, mas também ataca quem defende. Deixe esse mau humor de lado. Dá câncer!"

Mas a Dirce, sempre mau-humorada, despediu-se de mim fazendo o que ela sabe de melhor: xingar.
Organizei um "Kwanza" e convidei várias entidades. Inclusive o Chico Xavier. Ela disse que não veio. Preferiu ficar em casa, xingando os filmes de Natal.
Axé, Dirce!