"Não foram os anos
que me envelheceram,
longos, lentos, sem frutos.
Foram alguns minutos."

Assim declamou Cassiano Ricardo, autor desses versos, diante da multidão de espíritos e entidades, na Esquina do Além. Toda semana ele faz a mesma coisa: a mesma empolgação, o mesmo verso. Perguntei a ele se não podia variar de poema e ele me disse: "Meu poema é eterno. A declamação, também."

Dizem que a eternidade não tem fim, o que é uma inconsequente falácia. A eternidade tem sim uma idade. No entanto, os anos não estão submetidos ao calendário Gregoriano, nem judaico, nem muçulmano, Maia, dos deputados, etc. A eternidade tem calendário próprio e cada dia equivale a cinco bilhões de anos terrestres. E, a eternidade nem é assim tão velha. Afinal, ainda estamos no primeiro dia da eternidade.

O Brasil é regido por dois calendários: o gregoriano, que é o oficial, e o brasiliano, uma espécie de calendário no câmbio negro.

No calendário gregoriano, o ano começou há quase dois meses. É um calendário rígido, permitindo apenas o ano bissexto e alguns recálculos de segundo para ajustar-se à rotação da terra.

O calendário brasiliano não é o oficial, mas é o que impera. Sob a égide do calendário brasiliano que os deputados calculam sua semana útil, repartições públicas calculam o ponto facultativo, sindicatos articulam greves. No calendário brasiliano, qualquer data comemorativa que caía na quarta é pretexto para que a semana inteira seja um feriado.

Terminou o Carnaval, feliz Ano Novo.