Ataque Cardíaco Grill. Esse é o fato que despertou a atenção de todos os espíritos e entidades que frequentam a Esquina do Além, depois de ser infestada por ex-clientes dessa cadeia norte-americana de lanchonetes.

Passamos boa parte de nossas vidas formulando uma idéia do que seja o Inferno. Da mesma forma como nos debatemos como seria o Paraíso. Qual seria o Inferno de cada um? Para um palmeireinse, seria um lugar cheio de corintianos. Para um bipolar, um lugar com pessoas otimistas, que assumissem suas culpas. O inferno das ex-esposas (casadas ou não) seria passar a eternidade sendo obrigadas a assumir a paixão que negam, mas que ainda sentem por seus ex-maridos, ao invés de enganarem e fazerem sofrer os novos pretendentes. Não é preciso dizer que o inferno de todo político é um lugar repleto de pessoas honestas e o inferno de todo motorista bêbado é um lugar onde as leis funcionem.

Um inferno para os naturebas e nutricionistas com certeza seria o "Heart Attack Grill". Fiquei curioso para conhecê-lo. Como o médium cinematográfico Rogério de Moura não podia viajar aos Estados Unidos, o jeito foi encontrar um frequentador da tal lanchonete que tivesse predisposições mediúnicas. Encontrei um caboclo americano e logo fui à Terra do Tio Sam conhecer a famosa cadeia de lanchonetes.
 
Incorporei em um americano faminto e curti o local. Um cliente sofreu um infarto após comer um hambúrguer triplo, o Triple Bypass Burger, com mais de seis mil calorias. Pode ser.... Mas não sei se por excesso de comida ou pelas garçonetes, vestidas sensualmente de enfermeiras.

Os ingredientes dos lanches são fritos em banha de porco legítima e pura. Os clientes, aliás, vestem-se como pacientes de hospital. Pessoas acima de 160 quilos podem comer de graça. 
 
Blogueiros, que engordam substituindo suas vidas reais pela virtual, através do Blogspot, Orkut, Facebook ou blogs em geral têm descontos oficiais. Afinal, serão os próximos clientes com 160 quilos. O restaurante afirma que recebe por volta de 30 pessoas com essa pesagem.

O manda-chuva, conhecido como Dr. John, era dono de centros de estética e emagrecimento nos EUA. É nutricionista e não é obeso. Afirma, aos quatro ventos, que come o menor sanduíche da casa cerca de quatro vezes por semana. Lançou um livro no qual incentiva uma dieta rica em coisas que faria um natureba desenhar um sinal da cruz imaginário no ar. Dietas do nível de um Dr. Perkins, aquele que apregoou que devíamos comer apenas carnes e ovos fritos. Como se não bastasse, a lanchonete vende cigarros sem filtros.

Caí de boca no principal hambúrguer da casa, que tem quatro andares, com um quilo de carne, contabilizando 8.500 calorias. Não terei, como sempre, qualquer indigestão. Sou um espírito. Apenas incorporo. A tarefa hercúlea da digestão caberá ao norte-americano que me incorporou. Aliás, ele não irá lembrar-se do que comeu.

O Rogério de Moura vive penalizando a si mesmo a cada churrasco que comparece. Direi a ele para ser menos histérico. Afinal, o lema do Heart Attack Grill é: "sabor pelo qual vale a pena morrer". 
 
O Rogério está há um mês vivendo de peixe cru, legumes, arroz integral e chá verde. Não sei como aguenta. Ele se justifica com um: "viver ainda vale a pena." Mas, viver fazendo regime?

Creio que os mentores do Heart Attack Grill criaram o slogan baseados no lema número um dos motoristas bêbados brasileiros: "Prefiro encher a cara, matar e morrer bêbado num acidente, do que viver minha vidinha".
 
Não sei se essa rede de lanchonetes teria sucesso no Brasil. Ou teria? Prefiro um leitãozinho à pururuca que o melhor sanduíche do Heart Attack.

No Wikipedia, Google e na Encruzilhadapedia dá para conhecer um pouco mais sobre essa saudável alternativa gastronômica.

Ou no site:

http://www.heartattackgrill.com/

Eparrei!

Rogério de Moura
 
 





















 
15... 16... 17 de abril... 2012!


Lembram-se das nossas velhas novas promessas de fim de ano?


Mais tolerância,
Menos fel,
Menos rancor,
Menos ira,
Mais humor,
Melhor respiração,
Melhor alimentação,
Menos ódio,
Julgar menos,
Mais espiritualidade (a efetiva, não aquela de horóscopo de jornal),
Menos mentiras, 
(sob hipótese alguma) mentir para si mesmo,
Menos pés no carpete e mais pés na grama,
Menos olhos no computador e mais olhos na paisagem,
Menos egocentrismo,
Menos vingança, 
Menos indiferença,
(finalmente) tentar ouvir mais,
(finalmente) tentar falar menos,
(finalmente) aprender a pedir perdão,
(finalmente) aprender a perdoar,
Comprender mais,
Aprender mais,
Ajudar,
Aceitar ajuda,
Ter paciência no momento em que estiver recebendo ajuda,
Deixar de responsabilizar os outros pelas opções que escolhemos e que nos prejudicaram, 
Não expulsar de nossas vidas quem nos ama,
Não impor aos outros nossas neuroses.
Não execrar quem tentou nos dar atenção, nos reerguer e nos valorizar,
Não fundamentar nossa inércia utilizando como pretexto religiões, livros de  auto-ajuda, citações ilustradas do Facebook ou frases de "grandes pensadores".



Não creio que nossos grandes pensadores tenham formado séculos e séculos de teorias para justificar que qualquer pessoa fique "sentada no trono de um apartamento, com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar."



Cumprimos algumas de nossas promessas? Ou as promessas, que nunca serão cumpridas, existem para nos consolar porque adotamos nossos problemas como estilo de vida? Reclamamos, lamentamos, estrebuchamos, choramos, mas a verdade é que amamos perdidamente nossos problemas. Afinal, após tanto tempo de convívio, eles passaram a fazer parte de nossa identidade, de nossa percepção, de nosso subconsciente. São a justificativa indispensável para nossa covardia em temer a vida, o mundo real.

Sem nossos problemas e angústias, estamos nus. Sem eles, somos pessoas comuns, indefesas diante de um mundo competitivo, frio e cruel. Nossos problemas é que nos diferenciam, nos destacam dos demais. São nossos problemas que nos fortalecem.

Para muitos, um problema pessoal é o sustentáculo do que resta de auto-estima. Combatê-lo seria como combater a si próprio. Os desavisados que tentam, em vão, ajudar "o dono do problema", sempre saem do processo desgastados, tidos por algozes por aqueles  a quem se havia tentado ajudar.


Vamos! Acorde! Ainda há tempo para despertar! 15... 16... 17 de abril... 2012! Amanhã, será 18 de abril. Encaremos esse dia como o primeiro dia do Ano Novo e ressuscitemos nossas promessas feitas há pouco mais de quatro meses atrás, as quais, duvido que não eram as mesmas do ano anterior. 

Apenas a morte põe termo a tudo. A menos que seja esse o covarde objetivo. Antes que as promessas para um próspero 2012 se transformem em promessas para um novo e hipoteticamente maravilhoso 2013, que se converterá na próxima promessa para um ótimo 2014, ou quem sabe um 2015...


E assim continuaremos a viver masturbando na internet 25% do que conseguimos aproveitar de nossas vidas, entre quatro confortáveis paredes, sem sol ou chuva, sob ar condicionado ou ventilador, abdicando de usufruir plenamente pelo menos 80% do que nossa "vida real" nos oferece todos os dias. Continuaremos deixando essa "vida que nos espera" para algum ano que estará sempre no futuro, sujeito às novas promessas de fim de ano. Promessas são cômodas.


15... 16... 17 de abril... 2012... 2013... 2020... 

2030 está ali na esquina. E, logo, 2040... 2045... Até que a "vida real", que até aquele momento nos esperava pacientemente, acabe mudando de idéia e decida partir. E tudo se transforme num patético epitáfio sobre uma vida escrita nas tintas invisíveis das hipóteses e boas intenções.


Apesar desses lampejos de esperança, tenho a impressão de que promessas de fim de ano nunca serão nada mais que isso: promessas de fim de ano.



Eparrei!



Rogério de Moura



Antes da sessão de incorporação no meu querido médium anarco-cinematográfico, Rogério de Moura, dei um rolezinho na minha querida Esquina do Além. E quem encontrei por lá? Dorival Caymmi!

O Rogério, certa vez, havia reclamado pelo fato do Dori ter composto "Acalanto".

A canção é belíssima:

É tão tarde
A manhã já vem
Todos dormem
A noite também
Só eu velo por você, meu bem
Dorme, anjo
O boi pega neném
Lá no céu deixam de cantar
Os anjinhos foram se deitar
Mamãezinha precisa descansar
Dorme, anjo
Papai vai te ninar.


Mas termina com os seguintes versos:


Boi, boi, boi
Boi da cara preta
Pega esta menina
Que tem medo de careta


Sim, é a popularmente conhecida "Boi da Cara Preta". Tão cantada para as crianças antes de dormir durante a era pré-internet. A canção pode ser linda, mas pertence ao repertório de traumas de infância de oitenta por cento dos negros brasileiros. Como aquela: "Fuscão preto!”, outra canção utilizada com frequência quando o assunto era perturbar o Rogério. Ou então essa, ainda pior: “Armei uma arapuca na beira da estrada... Pegou um baita dum negão que meu coração gelou.” Ouvi-las durante uma chacota, por anos, traumatiza. Poderiam até ter sido uma “canção de natal”. Traumas são traumas.

"Dori, por que cara preta?" E então me lembrei do Ernesto, do samba do Adoniran. Ele está vivo e sim, mora no Brás. Aquele que nos convidou "prum samba". O problema é que "nós fomos e não encontremo ninguém." O "Arnesto" ficou conhecido nacionalmente como um furão. Acontece que isso nunca aconteceu e ele foi reclamar para o Adoniran, que lhe disse: "Arnesto, sem a sua 'pisada na bola' não tinha samba." Sem o "cara preta" haveria outra rima decente, Caymmi?" perguntei ao mestre.

"Não... sim... talvez... acho que não. Tá bom, tá bom! Sim! Concordo contigo. Só que, qual rima colocar se tivesse optado por 'Boi da cara branca'? Veja bem, meu caro Jovem Preto Velho, na hora, foi o que pensei para rimar com careta. Inspiração poética é isso. Baixa na gente e não tem jeito. Você, uma entidade, entende muito bem disso. Não havia nada de racista. E, veja bem, eu tenho os pés atolados na mãe África. Aliás, quem não os tem?"

"O problema é que o Rogério de Moura é um tremendo fã seu. Sabia que ele sofreu anos e anos de bullying por causa dessa sua canção de ninar?" Aliás, não apenas ele. Milhares de negros tiveram que, um dia, encarar alguém lhes fazendo chacota enquanto entoava essa singela canção de ninar.

Caymmi pensou... pensou e admitiu: "Realmente, hoje em dia, com esse negócio de politicamente correto, a canção não é... digamos... elogiosa com relação aos afros. Quando for incorporar, peça desculpas ao Rogério por mim. Eu poderia ter chamado de 'boi da cara violeta'."

Voltei para a incorporação. Mas o Rogério, além de não ter se curado, segurava um litro de Red Label. Soube que estava há dias assim. Paciência! Por enquanto, deixemo-lo mergulhado em sua profunda e amarga fossa. Volto para outra sessão noutra oportunidade. Faço votos para que ele se reestabeleça e esteja melhor. Com certeza, na próxima incorporação, o cineasta vai ter que fazer hora extra.



Eparrei! 

O ano era 2003, ou 2004, ou 2005, não me lembro. Estávamos na laje da garagem do Saldanha, em Santa Teresa, no Rio. Eu, o diretor de fotografia Mário Carneiro e cineasta Paulo Cesar Saraceni, comemorando e bebemorando o aniversário do anfitrião.


À certa altura, a cadeira do Mário, de plástico, começou a envergar e ele estava quase caindo. Fomos todos acudi-lo Mário. Minutos depois, aconteceu a mesma coisa com a cadeira do Saraceni.


Uma voz disse em meio aos amigos grigou: "Acudam, que o Cinema Novo tá caindo!" E todos "caíram" na gargalhada.

Mário Carneiro e Paulo Cesar Saraceni, a dupla da qual sentirei muita saudade de ouvir as "Histórias do Cinema Novo ao Redor da Fogueira Acompanhadas de um Red Label".


Vá com Deus, mestre Saraceni!

Rogério de Moura

Rogério de Moura
O sujeito vinha caminhando pela estradinha até que, no horizonte, surgiu um grupo de pessoas. Notou que traziam um caixão. Como ele e a "procissão" caminhavam em direções opostas, um momento, iriam se cruzar. E se cruzaram.
 
Ao passar pelo caixão, notou que o morto estava vivo. Não acreditou e pediu que interrompessem a caminhada para que pudesse conversar com o "morto".
- Você está vivo!
- Sim estou.
- Mas estão indo enterrá-lo.
- É verdade.
- Porque viver dá trabalho. Eu um sujeito triste, vivo deprimido. Não tenho um amor na vida, apesar de ser separado várias vezes. Não vivo a plena felicidade, não tenho sonhos, quando desejoalgo, não consigo realizar.
- Não te aflijas, amigo. Eu sou o Senhor dos Desejos, eu irei conceder todos os desejos que tiveres. Todas as carências que você tiver, serão resolvidas. Tudo o que você quiser, será realizado.
- Sério?
- Sim. Mas, claro, como nada vem de acontece do nada, você vai ter um pequeno trabalho: você terá que sair daí e viver.
- Viver? Mas viver dá muito trabalho. Prefiro o conforto do caixão.

E completou:

- Segue o enterro!

E foram embora.

Viver requer dor, requer pés descalços de vez em quando, requer vento na cara, tapas no rosto. É mais cômodo ficar entre quatro paredes imaginando uma vida que poderia ter sido plena. Viver sob o conforto da quatro paredes é mais tentador. Também é mais cômodo viver na lamentação, sob lágrimas, sob a pena alheia. Afinal, viver dá trabalho. Melhor ser um morto.

Rogério de Moura




A velha torneira
Toda entediada
Mirou certeira
A gota estourada
No meio da pia.
Depois, toda vazia
Foi espreguiçando.
E enquanto dormia
Acabou babando.


Rogério de Moura