O chato em questão não é o chato que empresta dinheiro e desaparece, tampouco os chatos que, bêbados e começam a desfilar incontáveis lamúrias. Ou aquele que enche a cara num boteco, volta para casa e agride esposa e filhos. Também não se trata do chato que quer brigar por causa de seu time de futebol.



Estou falando do chato que salva vidas. Ele está em falta. São os chatos, por exemplo, que reclamam no Procon, que vão à Assembléia Legislativa ou à Câmara dos Deputados exigir um pouco mais de hombridade por parte dos nossos mandatários; os chatos que lêem a bula, que reclamam da fila no banco; de alimentos com data vencida; do teor de agrotóxico nos vegetais. São os chatos que não permitem que o motorista dirija bêbado, que impedem que o sujeito avance no mar achando ser um exímio nadador.



Faltou esse chato para impedir a tragédia de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que vitimou duas centenas de jovens. O chato verificaria que o ambiente estava com um número de pessoas além do permitido, o chato iria reclamar com o gerente sobre o acesso à única saída de emergência, sobre a sinalização confusa para um eventual momento de pânico, por não haver um bombeiro de plantão, pelo fato do teto ser revestido com materiais inflamáveis. Um chato iria chamar o segurança pelo fato do cantor do grupo estar portanto fogos de artifícios usados no show.



O chato do olhar crítico, o chato discordante. A voz que chama a atenção de todos para os erros que ninguém percebeu. O chato que ignora as reclamações das outras pessoas pelo fato dele estar "atrasando o divertimento".



Talvez tenha faltado esse chato para prevenir essa tragédia. Um chato reclamaria de tudo isso, seja com o dono da casa, um policial, um bombeiro ou o Procon.


Não são apenas os bombeiros. Chatos também salvam vidas.





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