Tocou o despertador, incomodando-o e interrompendo um sonho muito agradável do qual já havia se esquecido. Lembrou-se do velho e barulhento despertador que tinha quando tinha vinte anos. Agora é um moderno celular. Mesmo assim, o barulho, moderno, era incômodo. Levantou-se e foi até a sala, onde deixou o aparelho carregando a bateria. As tomadas do quarto estavam todas ocupadas.

Chegando a sala, encontrou o velho despertador, emitindo o toque moderno do celular. Achou estranho. Apertou o botãozinho para parar de tocar e não parava. Foi quando concluiu que estava sonhando. 

Então acordou. O alarme ainda soando da sala. Estava sonhando com seu velho e saudoso despertador. Caminhou até a sala, pegou o celular e pressionou o botão para que parasse de tocar. Não parou. Tentou novamente. Nada. Tentou várias vezes sem resultado. Olhou para a janela e viu que estava chovendo. Mas as gotas da água não faziam barulho. Foi até a janela e viu que chovia leite. Concluiu que estava ainda sonhando. Um sonho dentro de outro sonho. 

Acordou. Finalmente, vida real. Caminhou até a sala, pegou o celular, pressionou o botão para que o alarme calasse. Não calou. Um bezerro entrou na sala. Outros foram entrando. Não acreditou que ainda estava dormindo. Fez esforço para acordar.

Acordou. Estaria ainda sonhando? O alarme do despertador tocando. Caminhou até a sala. Antes, surgiu um riacho, assim que abriu a porta do quarto. O celular em cima da mesa de centro da sala, do outro lado da margem. É claro, ainda estava dormindo. 

Acordou. O alarme do despertador do celular tocando. A seguir, sirenes. Um vulcão explodiu, espalhando lava pelo quintal. Lembrou-se que no Brasil não há vulcões. E, caso houvesse e explodisse, tudo estaria em chamas. 

Acordou. Estava nevando do lado de fora do quarto. Era verão. Estava no Brasil. Que sonho é esse que não terminava? Sonho, dentro de sonho, dentro de sonho, dentro de sonho.

Acordou. O despertador tocando. Mal saiu do quarto e flagrou, na sala, duas pombas brancas brigando.

Acordou. Chegou à sala e, antes de desativar o alarme do celular, encontrou a ex-namorada com quem havia brigado aos prantos, pedindo-lhe desculpas. Ela não tinha a chave da casa, pois na briga jogou-a dentro da privada. 

Acordou e...

Rogério de Moura