Do nada surgiu a mosca voando pelo quarto.
Por preguiça, deixou-a lá, buzinando seu tradicional zumbido, esperando que, em algum momento, ela partisse.
Vários minutos se passaram, nada de partir. 
Dez minutos depois, não suportou e acionou o inseticida.
Os primeiros jatos erraram o alvo. O terceiro foi certeiro.
A mosca, que antes voava com um trajeto reto, passou a oscilar. Mas permaneceu voando e cantando.
Seguiu-se o quarto jato de inseticida. A mosca começou a cantar "Pensa em Mim".
Foi obrigado a recorrer ao quinto jato.
A mosca, mais tonta ainda, começou a entoar um sertanejo universitário.
Seguiu-se o sexto jato. A mosca, completamente dopada, começou a cantar uma música de axé.
Depois do sétimo jato, a mosca desembestou um funk carioca.
Guardou o inseticida, saiu de casa e foi dar uma volta no quarteirão.
Quem sabe, na volta, a mosca tenha encerrado o seu show gratuito.

Rogério de Moura