Três moscas e um prato de sopa. Duas delas, tristes, observavam o corpo da terceira boiando no líquido, entre duas letrinhas (era uma sopa de letrinhas) e um grão de ervilha. Eram dois velhos amigos que se conheciam desde a infância. Ou seja, conheceram-se vinte e quatro horas antes. Um deles chorava copiosamente, afinal, era casado com a mosca "recém-morrida".

Enquanto soluçava, disse ao amigo:

- Ela vivia dizendo que, se eu a traísse, iria se atirar no primeiro prato de sopa que encontrasse. Nunca achei de que ela seria capaz disso!

Chegou o garçom, interrompendo o velório.

Rogério de Moura