Dicró: "O professor Girafales é mais malandro que o Seu Madruga."

O médium afro-filosófico-cinematográfico, Rogério de Moura, antes da sessão de incorporação, passou alguns instantes intrigado com o que viu em frente à sua casa de sapê.

Do outro lado da rua, funciona uma das unidades da academia Runner, inaugurada há não muito tempo. A rua tem ficado entupida de automóveis desde então. A maioria dos veículos pertencem aos associados da academia. A todo momento surge alguma confusão porque há sempre algum associado teimando em estacionar o carro em frente a uma casa com garagem.

O que mais intrigou o Rogério foi o fato das pessoas irem à academia de carro. Custava ir à pé ou de bicicleta? Para que perder cerca de uma hora no trânsito para fazer meia-hora de esteira? Muitos dos que frequentam à Runner param em fila dupla, em frente da academia. O "atleta", disposto a queimar suas calorias se recusa a caminhar alguns metros de calçada. Será por malandragem?

Antes de visitar o Rogério, passei pela minha amada Esquina do Além, onde espíritos e entidades se encontram para um bate papo e para passarem em dia suas reencarnações não importa em qual dimensão tenham ocorrido.

E quem encontro por lá? Os três malandros mais célebres do Brasil: Bezerra da Silva, Moraes Moreira e Dicró. Aproximei-me como quem não queria nada, só de malandragem. Notei que conversavam sobre futebol. Achavam que os jogadores dos dias atuais estão deixando de lado o talento no trato com a bola para passar o jogo inteiro tentando ludibriar o árbitro.

O Moraes Moreira revelou-me um segredo: disse que, de maneira autodidata, estudou Direito. É poliglota em línguas terrestres. Sabe inglês, francês, alemão, hebraico, mandarim, árabe e javanês. A única língua que nunca entendeu foi a dos políticos.

O Bezerra, disse que sabia tudo de Física e Botânica. O Dicró estudou filosofia. Fã de Anaxímenes, filósofo que dizia que tudo era feito de ar. Sabe de cor toda a obra de Sócrates e Heidegger.

Perguntei-lhes: "Com todos esses conhecimentos, um poderia ter sido juiz ou desembargador; o outro, um conceituado cientista que revolucionaria o mundo acadêmico ou um criador de orquídeas; o terceiro um Filósofo. Porque os três malandros deixaram esses conhecimentos em segundo plano e caíram no samba?

O Bezerra, o Moreira e o Dicró responderam ao mesmo tempo: "Só por malandragem!"

O Bezerra comentou: "Os programas esportivos deveriam, além de eleger o craque da rodada e o gol mais bonito, também eleger o malandro da rodada. Aquele jogador desonesto que enganou o juiz e levou vantagem. Simulando uma falta, uma agressão entre outras pilantragens. A imagem na qual ele se jogou no gramado para simular falta seria repetida diversas vezes, para o povo ver como o sujeito é picareta."

O Moraes Moreira concordou: "São falsos malandros. Malandro que é malandro não faz essas coisas. É mais sutil e produtivo." Dicró concordou, citando como exemplo, Dicró citou o Professor Girafales, do “Chaves”, através de uma estranha teoria.
 
Segundo o Dicró: "Malandro mesmo não é o Seu Madruga, é o professor Girafales. O Seu Madruga vive apanhando, na pindaíba, devendo aluguel. Enquanto isso, o professor Girafales é respeitado por todos. Chega à Vila trazendo rosas para a Dona Florinda. Ele as comprou? Não, colocou na conta da escola. E, toda vez que aparece outra mulher, ele logo se esquece da sua amada Florinda. Pelo jeito, está mesmo é querendo a herança do pai do Kiko. Ele é mais malandro que o Seu Madruga."

Concordei. Falso malandro, assim como os "atletas" que vão para a academia de automóvel.

Eparrei!

Rogério de Moura
 
 
 

2 comentários:

  1. ô jovem preto velho, o "moreira" no caso é o Moreira da Silva. O Moraes é hippie demais prá ser malandro...

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  2. Eu vi isso, tentando entender se Moraes Moreira foi realmente intencional.

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