Isso me fez recordar uma figura mítica do bairro que abriga
minha casa de sapê: o Zé Bigodinho. Um senhor na faixa dos quarenta anos, cujo passatempo, às vésperas das
eleições, era pintar bigodes em qualquer imagem de candidato. Não importava o
partido. Ele não podia ver nada com o rosto de um político ou candidato e logo ia lá,
pintar um bigode no rosto do sujeito. Cartazes colados em muros, postes e até "outdoors" não escapavam da
tinta preta do Zé, que nos rostos dos candidatos desenhava um bigode. Quando o
sorriso era muito escancarado, pintava um dente careado na "otoridade".
Graças a esse comportamento, Zé Bigodinho envolvia-se
constantemente em confusões. Afinal, há pessoas pagas para monitorarem
cartazes, cavaletes e “outdoors” contra pichações. Certa vez, um
correligionário chamou a polícia. Bate-boca, discussão, ida à delegacia. Mas,
que mal fazia Zé Bigodinho? Apenas expressava, democraticamente, seu apreço aos
nossos candidatos que, tradicionalmente, exibem os melhores sorrisos e as
piores intenções. O auge foi quando bateu boca com um candidato, jogando na autoridade o seu balde de tinta preta.
Zé Bigodinho, quixotescamente, costumava a dizer às pessoas que nunca teremos candidatos e
tampouco políticos decentes enquanto não tivermos eleitores decentes.
Geralmente encarava um eleitor ofendido com tal declaração. Mas sempre tinha
alguém da “turma do deixa disso” para acalmar os ânimos.
Dizia também de que nada adiantaria meia dúzia de eleitores debater
sobre esquerda e direita, povo e elite, qual o partido com melhores propostas,
se no final das contas, a maioria vota em qualquer picareta sorridente.
Havia torcedores do PT que o chamavam de peesedebista. E também havia torcedores do PSDB que o chamavam de petista.
Havia torcedores do PT que o chamavam de peesedebista. E também havia torcedores do PSDB que o chamavam de petista.
Faz pouco tempo, o Zé Bigodinho deixou o mundo corpóreo.
Está fazendo falta. Fico imaginando os bigodes que ele desenharia na imagem do
Serra, do Haddad, do Chalita entre outros. Ou as bocas que teriam as candidatas
as candidatas.
Da última vez em que encontrei sua alma, foi na Esquina do
Além. Soube que foi para o Paraíso. Deve estar lá, desenhando bigodes nos
rostos dos próprios políticos recém desencarnados.
Paraíso? Pensando bem... vai ser difícil encontrar a alma de
algum político por lá.
Eparrei!
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