Breves reflexões de um suicida
- Como o tempo é coisa relativa, enquanto descia do vigésimo
andar, rumo ao térreo, ele teve tempo suficiente para repensar
sobre os problemas de sua vida.
- Chegando ao décimo quinto, lembrou-se do sequestro relâmpago
que havia sofrido e as horas nas quais passou nas mãos do bandido.
Depois concluiu que poderia superar o trauma e, quem sabe, mudar de
cidade, ou ostentar menos riqueza e se prevenir quando fosse sacar
uma grana no caixa eletrônico.
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- Chegando ao décimo andar, pensou na fortuna que devia aos
bancos e em seu nome sujo na praça. Os juros abusivos. Logo em
seguida, concluiu que o problema nem era tão grave assim. Poderia
fazer algum acordo com os bancos e, com muito sacrifício, quitar as
dívidas e limpar o seu nome no Serasa e no SPC.
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- No quinto andar, lembrou-se da esposa, que havia lhe pedido o
divórcio. Pensou na divisão dos bens e sobre o quanto lhe sobraria
depois da separação. Pensou também no vazio afetivo que herdaria.
Logo a seguir, concluiu que poderia, a partir disso, encontrar um
novo amor e recomeçar uma nova vida a dois com novos desafios.
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- Por último, pensou nos filhos. Sempre reclamavam da ausência
do pai. Nunca tiveram boa relação. A filha, ainda adolescente,
havia engravidado. Mas, assim que teve essa lembrança, pensou que
poderia reaproximar-se dos filhos e tornar-se um pai mais presente.
E que, apesar da filha ser muito jovem, ela e o futuro pai da
criança poderiam, com esforço e dedicação, dar uma vida decente
à criança.
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- Afinal, eram coisas que o afligiam. Problemas que poderiam ser
agravados, mas também solucionados, com maior ou menor esforço.
Apenas hipóteses.
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- Naquele momento, ele estava chegando ao primeiro andar.
Restou-lhe alguns instantes para lembrar-se das pessoas que amava e
que estava deixando. Concluiu naquele momento que não as queria
deixar. Mas não havia jeito: havia pulado do vigésimo andar.
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- Depois disso, não pensou em mais nada.
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- Rogério de Moura
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Rogério, esta é umas das melhores crônicas que você escreveu até hoje. Parabéns.
ResponderExcluirCesar
vai ver que é por isso que todos os que pulam são encontrados em posição defensiva, como tentassem se proteger da queda. Por isso prefiro suicídios à bala!
ResponderExcluirFiquei completamente catatônico.
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