Estavam os dois lá, na estação de metrô, observando a movimentação durante o horário de pico, assombrados com a truculência das pessoas.
- Olha só aquela moça desmaiada na plataforma.
- E o que você queria? Não cabe ninguém. Nem um pombo. É a lei do espaço: dois corpos não ocupam o mesmo lugar.
- E ninguém sabe disso?
- Sabem, mas fingem não saber.
Pouco tempo depois, outra confusão:
- O coitado quase caiu nos trilhos!
- O anjo da guarda dessa gente trabalha muito!
- Deveriam cobrar hora-extra.
Não tardou, outro tumulto:
- Olha lá, dois homens brigando!
- Socos, cotoveladas... Não teria lugar melhor pra bigar? Uma praça. Tem espaço.
- Eles são exibicionistas. Precisam de gente olhando.
- Mas, numa praça também tem gente pra ver. E muito mais espaço.
Corre-corre. Seguranças cercam um rapaz. Parece que tentou assaltar uma senhora. É retirado da plataforma ainda tentando escapar. Os passageiros xingando e cuspindo em seu rosto. E os dois amigos assistiam a tudo, resignados:
- Não tem jeito.
- Todo dia é a mesma coisa.
Então um olhou pro outro e disse:
- Sabe de uma coisa? Deixa esse bando de trouxas aí, se ferrando. Vamos dar uma volta?
- Demorou!
Eles se conheciam há muito tempo, enquanto defecavam na cabeça de uma pobre estátua. Abandonaram a confusão da estação do metrô e voararm rumo a uma praça tranquila para, se tiverem sorte, encontrar alguém jogando pipoca na calçada.
Rogério de Moura
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