Envelheci, foi sem querer.
Distraí-me alguns instantes,
adiei sonhos e planos,
congelei alguns momentos
no baú da memória,
procurei abrigo no medo do fracasso,
adormeci na promessa 
de sorrisos e afagos.
Quando finalmente despertei
olhando para as pegadas logo atrás,
eu mesmo era o passado
do qual zombava.

(Rogério de Moura)




Acima  de tudo,
tudo é vizinhança.
Acima da Terra,
tudo é céu.
Acima do mundo,
tudo é universo.
Acima do universo,
tudo é infinito.
Acima do infito,
tudo está acima de tudo.

(Rogério de Moura)





Quantas pessoas 
sejam ruins, sejam boas
eu abraçava por dia
antes da pandemia? 

 (Rogério de Moura)



O Brasil é um país arrogante. A gente vê pessoas de outras nações mundo morrendo aos milhares, autoridades sofrendo em busca de algum jeito de ajudar seus cidadãos e fazemos pouco caso. Nos achamos os "ungidos", os "especiais". Nada nos atingirá. Não precisamos tomar as mesmas atitudes que outros países tomaram, pois não precisamos disso. Enquanto Inglaterra, Itália, Espanha e Alemanha fecham suas atividades para conter o espalhamento do vírus, nós, os especiais, festejamos e lotamos as praias, "curtimos a vida adoidado" . Apesar de termos hospitais e cemitérios entrando em colapso. Aqui é Brasil e Deus é brasileiro. (Rogério de Moura
Em um país que é um dos campeões em automedicação, só a psicanálise pode explicar o fato de haver pessoas dizendo não tomar a vacina, que, com certeza, está sendo testada e será aprovada pelo principal órgão regulador brasileiro. (RdM)
Inglaterra: lockdown. Alemanha: lockdown. Aqui: secretário estadual de Educação de São Paulo anunciando o retorno às aulas presenciais para fevereiro. Vamos ter que chamar a ONU para nos proteger das nossas autoridades.
Pra quem você daria o Troféu Nero? Para o Trump ou para o Bolsonaro? (RdM
Nem boato, eu confesso que acreditei: as tecnologias da comunicação fariam a humanidade evoluir. Essa foi a pior fake news de todas. (Rogério de Moura)

 Numa rua chamada Brasil

quase não se dorme.

Naquele pedaço de chão

todo mundo grita.

Grita o rico, 

grita o pobre,

gritam os cães, 

gritam os gatos.

E, veja só, 

gritam até os pássaros.

(Rogério de Moura)

Boca da menina com megafone
Ilustração: Art Style
Fonte: Pinterest




Esse embate Direita X Esquerda é uma coisa "genial", criada em "comum acordo" entre a "Direita" e a "Esquerda" para alienar de vez as pessoas e acabar, de uma vez por todas, com o debate político produtivo. 

Vai levar muitas gerações para reparar os estragos dessa polarização. Aliás, Direita e Esquerda no Brasil é piada. 

No final, todo mundo vai ao shopping center fazer compras e estão pouco se importando com o povo que, tanto para a Direita quanto para a Esquerda, não passa de massa de manobra.

(Rogério de Moura)




Como encarar algumas pessoas depois dessa pandemia?
Pessoas próximas que disseram coisas como:
- Não tô nem aí!
- Dane-se! Se eu tiver que pegar vou pegar!
- Não vejo a hora e ir pro shopping.
Pessoas que foram escondidas a um pancadão, à uma grande festa.
Como encarar e o que dizer para elas?

(Rogério de Moura)





A pandemia 
mostrou que,
para milhões de pessoas,
não existe vida
sem um shopping center.

(Rogério de Moura)





Muitas pessoas acham que, uma hora, o governo virá à publico e dizer: "Foi pegadinha, pessoal! Foi tudo pegadinha! Não existe pandemia. Foi tudo pra quebrar o comércio e pra vocês pararem de ir ao shopping, aos botecos e aos jogos de futebol!"

RdM
Muitos bichos feridos pela floresta.
O palácio do Rei Leão foi cercado.
Uma multidão de bichos republicanos
queria a cabeça do rei.
Alguns cogitavam manter a família real
confinada em um remoto casarão para executar em um futuro breve.
A imprensa mundial cobria os acontecimentos,
apreensiva com o desdobramento dos fatos.
O Greenpeace e entidades de defesa dos animais
tentaram mediar o conflito. 
Foram expulsos por não terem animais no quadro de ativistas.
Isso tudo é verdade.
Quem me contou foi um martim-pescador.

(Rogério de Moura)


Ouvir o barulho da chuva
lá fora
é um dos
maiores prazeres da vida.
O problema
é também ouvir
o barulho da goteira.

(Rogério de Moura)


Ideologias são movidas a dogmas.
Fingem que libertam.
Na verdade, aprisionam.

(Rogério de Moura)


"Selfies" são fotos de paisagens mal enquadraddas com um idiota sorrindo no rodapé atrapalhando a imagem.
(
RdM)
Mais uma briga de casal:
o pólo positivo 
brigou com o pólo negativo.
Fez-se o Big Bang!
Daquela simples discussão
nasceu todo um universo.

(Rogério de Moura)






Ideologia é
um tipo de seita
inventada
para escravizar
a mente das pessoas
e para criar inimigos.
Sua principal estratégia
é se aproveitar
da miséria e
da falta de esperança.
(Rogério de Moura)











Do pó viestes e...
pó continuas.
Só que doutra forma.
Mas, sempre poeira.

(Rogério de Moura)


Um dia, finalmente, a humanidade, 
irá encontrar a tolerância. 
Perdida e empoeirada, 
atrás do sofá, 
contando histórias para
moedas de cinco centavos.

(Rogério de Moura)



Porque as moedas 
de cinco centavos,
quando caem no chão,
sempre brincam de 
esconde-esconde?

(Rogério de Moura)



Era uma vez um país onde ignorância e politicagem eram as coisas mais praticadas.
A ignorância do povo era alimentada pelos políticos
pois permitia que eles praticassem a politicagem.
O povo, por ignorânica, estava satisfeito com a situação.
Os políticos também estavam satisfeitos com o estado das coisas.
Por isso mesmo, tudo fizeram para manter o povo na ignorância.
Uma das armas mais antigas e sempre praticadas foi uma lei não oficial conhecida como "Toma Lá, Dá Cá".
Outra arma, só que um pouco mais moderna e muito eficiente chama-se Ideologia Partidária.
E assim, todos viviam relativamente satisfeitos.
Até que chegou um vírus, matando muita gente do povo.
A população não sabia o que fazer. Nem os políticos.
Para complicar, a ignorância não permitia que o povo respeitasse nenhuma medida criada para combater o vírus.
Poucos políticos morreram e muitos aproveitaram a situação para continuar fazendo politicagem.
Com se não bastasse, as ideologias partidárias também quiseram levar vantagem da situação.
O país começou a brigar entre si.
Enquanto isso, o vírus, que não estava nem um pouco preocupado com a ignorância e muito menos politicagem ou ideologias, seguia ceifando vidas.
Um dia, o vírus se cansou e desapareceu.
Mas o país não pôde comemorar por muito tempo, pois a ignorância, a políticagem e as ideologias partidárias seguiram causando discórdia, matando pessoas e mantendo o povo na ignorância. 
(Rogério de Moura, cineasta)





Nada alegrava aquela palavra.
Nem alpiste, nem água, 
nem afagos na cabeça.
Abri a gaiola e ela voou feliz.
Voou, voou e voltou.
Defecou na minha cabeça.
Hoje, canta com outras palavras
no parapeito da janela.

(Rogério de Moura)





Anúncio para anjos da guarda:
"Procurando emprego?
Venha ao Brasil.
Trabalho é que não falta."

(Rogério de Moura)

Imagem: Depositphotos
(baseado livremente em fatos reais)

Aconteceu há séculos atrás:

Primeiro, veio o "tu".
Muitos achavam este pronome muito curto e formal. Encontraram um jeito de dar uma caprichada:
- Que posso fazer por vossa mercê?
"Vossa mercê" era, então, o termo utilizado para quem não gostasse da frieza do "tu".
Algum preguiçoso teve a ideia de abreviar e, logo, muitos passaram a também economizar letras.
Assim, nasceu o "você".
- Que absurdo! Onde vamos parar? - revoltou-se um conservador.
Logo, outros conservadores juntaram-se a ele.
Foram ter com as autoridades. Uma lei proibiu o uso do "você", obrigando a todos a retornarem ao "vossa mercê".
Os que preferiam o "você" fizeram uma passeata. 
Por uma capricho do acaso, a passeata do "você" encontrou-se com a passeata dos defensores do "vossa mercê". coincidência, se encontrou com outra passeata, dos que preferiam continuar com Ofensas, socos, pauladas e depredação ao bem público. 
A polícia surgiu, montada em seus cavalos.
Houvesse televisão, teria cobertura completa por um canal de grande audiência.
Como não houve, nem é preciso citar aqui que também não houve rede social para espalhar comentários, prós e contras "vossa mercê" e "você".
Ainda bem, pois com certeza, tornaria-se outro enfadonho capítulo da infinita briga de Esquerda contra Direita dos dias contemporâneos. 
"Vossa mercê" poderia ser os de Direita e "você" os da esquerda.
Depois de algum sangue e prisões, não houve jeito e, hoje em dia, todos utilizam o pronome "você" nas frases.
O termo "vossa mercê" caiu no esquecimento.
Os não simpatizantes do "você", podem contar com o intocável "tu", que é impossível de abreviar.

(Rogério de Moura)


Se alguém voltar ao passado do planeta e pisar numa única borboleta, poderá alterar todo o destino da humanidade. Pode ser até que ela nem chegue a existir.
Chamamos de "efeito bortoleta", sobre a hipótese de alguém alterar algo em tempos idos.
Pode acabar sendo pai ou avó de si próprio ou ter matado por engano o inventor da penicilina. As consequências seriam catastróficas.
E se alguém voltasse no tempo e matasse quem inventou o beijo?

(Rogério de Moura)


Dizem 
"Se você souber como se fabricam as salsichas,
nunca comerá outra novamente."
Eu também diria...
"Se o sapo soubesse como nascem as moscas
nunca mais as comeriam."

(Rogério de Moura)


Domingo, quarta, terça
Não sei que dia é.
Nem se meu nome 
é João, Pedro ou José.

(Rogério de Moura)


O problema sou eu
ou eu sou o problema?
A imagem tá apagada
ou não enxergo muito bem?
O volume está baixo
ou estou ficando surdo?
As pessoas estão surdas
ou não consigo mais erguer a voz?
A estrada é longa
ou estou cansado?
(RdM)



O besouro pousou sobre ele
e ficou caminhando, explorando.
Como se o sujeito fosse um planeta.
Pouco se importando se esse "corpo celeste"
se mexesse e que mirasse para ele dois gigantescos olhos.

(Rogério de Moura)


"Além da Imaginação" ou "Twilight Zone" é a série que eu mais venero neste mundo, neste universo e em todas as dimensões que existem.
(Rogério de Moura)


Definição de helicóptero:
Helicóptero é aquela aeronave chata que sempre me desilude quando acho que vi um disco voador.
(Rogério de Moura) 



Deveria haver um "civilizômetro" para medir o grau de civilidade de uma pessoa. 50% de civilidade e ruim, mas dá para passar. Mas, aqueles que ficarem abaixo dos 5%, internação imediata.
(Rogério de Moura)


Ecos da pandemia: estava em uma grande avenida, diante do farol de pedestres. "PRESSIONE O BOTÃO E AGUARDE". Deveria apertar o botão. Tocar ou não tocar? Quantos possíveis infectados devem ter tocado no bendito botão? Não estava com o frasco de álcool gel, nem luvas. Fiquei com receio. Não apertei e fiquei esperando o sinal abrir.
(Rogério de Moura)





Analfabeto funcional é alguém que não sabe ler, escrever ou compreender um texto. Apenas o suficiente para trabalhar e interagir com outras pessoas. No Brasil, temos o "selvagem funcional". 
É uma pessoa que não respeita as leis, não respeita o próximo e não exerce a cidadania. Apenas faz o mínimo para ser considerado civilizado. Mas de forma egoísta.
(Rogério de Moura)
Certa vez, no Brasil, um brasileiro (é claro!) encontrou uma lâmpada.
Como estava um tanto empoeirada, esfregou-a.
Surgiu de dentro do artefato um gênio, deixando o brasileiro pra lá de surpreso.
O gênio disse:
- Tu és meu amo e eu vos concederei tantos desejos quantos quiseres. Dinheiro, carros, sucesso... Basta dizer o que desejas e serás atendido. No entanto, após cada desejo, tens a obrigação de agradecer. Caso não diga "obrigado", após o primeiro desejo realizado, o desejo será desfeito, esta lâmpada desaparecerá e irá surgir em outro lugar do país. Quanto a tu, apenas esquecerás que a encontrou.
E assim, o amaldiçoado gênio, com sua lâmpada, seguem vagando pelo Brasil, sem realizarem um único mísero desejo, na esperança de conseguir um mísero obrigado".
(Rogério de Moura)


Que a vida seja tão prazerosa
quanto enfiar a mão no saco de arroz.
Fosse assim tão boa em verso e prosa,
que importa o que viria depois?
Por isso, peço que a eternidade seja gostosa
como enfiar a mão no saco de arroz.

(Rogério de Moura)


Passarinho pousou
no relógio da igreja.
E o tempo parou.
Passarinho voltou a voar
e o tempo voou.
Passarinho precisou comer
e o tempo comeu.
Passarinho precisava dormir
e o tempo dormiu.
Foi aí que o passarinho pousou
e o tempo voltou.

(Rogério de Moura)