O conceito Preto Velho evoca sabedoria. Segundo a Encruzilhadapedia, Pretos Velhos são espíritos que se apresentam em corpo fluídico de velhos africanos que viveram nas senzalas. São entidades desencarnadas que tiveram pela sua idade avançada, o poder e o segredo de viver longamente através da sua sabedoria, apesar da rudeza do cativeiro demonstram fé para suportar as amarguras da vida, consequentemente são espíritos guias de elevada sabedoria.

Ouçam sempre o que o Preto (ou a Preta) Velho têm a dizer, diziam meus avós. Não podemos esquecer da oralidade das histórias e das tradições afro-brasileiras.

Os negros têm muito mais a ver com a preservação da história do que supõe nossa vã filosofia.

Atualmente, deveriam haver mais negros contadores de histórias, afinal, contar histórias é coisa inata ao negro.

Minha esperança é que, com toda a parnafenália que nos dá acesso à comunicação global, coisa inimagiável há cinco anos atrás, essa exclusão

dos afrões na importância da história mundial possa ser facilmente revertida.

Precisamos de mais negros contadores de histórias. Escrevendo livros, reportagens, fazendo filmes. Na música, estamos bem servidos, com a graça de Ogum.

Com maior atuação dos negros contadores de histórias, o negro poderá combater essa imagem nefasta do negro bovino, seminu, aculturado, empurrando a roda do moinho.

Quem sabe, com isso, se resgate o conceito do Preto Velho, com seus cabelos brancos, sua experiência e sua sabedoria.

No entanto, nem sempre cabelos brancos e anos de experiência significam mais sabedoria.

Veja, por exemplo, o Toni Blair. Vi-o, na TV, bem velhinho, cabeleira platinada. E ainda defende a Guerra do Golfo. Talvez esteja tentando convencer a si próprio da maior besteira que cometeu na vida.

Axé!


Às vezes, enquanto pito meu cachimbo na varanda de minha casinha de sapê, observando o quintal e os sites no meu lap-top com Windows 98, me flagro atento às formas feitas pela fumaça do meu cachimbo.

Às vezes parecem mapas, algumas vezes o rosto de um conhecido, outras vezes a cara do Ronaldinho Gaúcho.

A fumaça do meu cachimbo, livre, vai ganhando seu espaço no ar, enquanto se dissipa. Na verdade, está se misturando ao ar, tornando-se cada vez mais invisível, indomável como as águas dos rios e córregos.

Ao contrário da fumaça do meu cachimbo, o rio tem uma idade incontável. Há séculos o rio ocupa aquele lugar. Para rio, pouco importa se uma família pobre encontrou como solução construir uma casa às suas margens. Para o rio, nada vale se essa família construiu a vida no lugar. Plantou, acumulou bens de consumo, aumentou os membros da família. Há quantos anos a família vivia nolugar? Um, cinco, dez, vinte, trinta anos... Gerações... Não dá para equiparar aos milênios em que o rio lá existe. E o rio não perdoa. Quando a chuva se intensifica, exige seu lugar de direito.

E lá se vão, em poucas horas, o carro, o fogão, a geladeira, a televisão, o aparelho de som, vidas, as lembranças de família, a casa.

Não adianta tentarmos tomar o lugar do rio. Uma hora, ele nos toma de volta, de maneira trágica. A menos que, futuramente, se invente um aparelho que o transfira para outra dimensão. Mas, com certeza, a novíssima versão do Windows 3015 travaria.

Mas, convenhamos, o rio também tem seus direitos. Ou como diria o ex-ministro Antônio Rogério Magri: "O rio também é um ser humano."
"A mãe fala pro filho não enfiar o dedo na tomada. O menino enfia o dedo na tomada, toma um baita choque. E o que faz o menino? O moleque devia pensar: "Caracas, me fudi. A mãe disse pra eu não meter o dedo na tomada. Fui idiota. Nunca mais..." Mas o menino só sabe abrir um berreiro, como se o mundo tivesse sido impiedoso com ele."

Essa fábula me fez pensar no povo (sofrido, castigado e sempre apanhando) durante as águas do verão:

Exemplo 1: Pois bem, aí, aí, o brasileiro constrói a casa num belo precipício. Aí vem outro e faz uma casa bem do lado. E mais outros... O tempo passa, as famílias se reproduzem, aí fazem um puxadinho aqui, acolá... Plantam bananeiras no quintal (bananeira é uma maravilha pra infiltrar água no solo graças a sua folhagem característica). Como a área é ilegal, improvisam um esgoto. E assim vão levando a vida.

Até que a chuva...

Exemplo 2: A família vai para as margens e um rio ou órrego e fazem  a mesma coisa do exemplo 2.

Até que a chuva...

Vida fácil é dos repórteres: pauta garantida. Todo começo de ano, o que não falta são desabamentos, perdas materiais, mortes, gente chorando na TV.

E a TV trata como se aquilo nunca tivesse acontecido antes. E o povo enfiando o dedo na tomada, como o menininho teimoso.

Eparrei!


Rogério de Moura