Paulo André, do Corinthians: boleiro e escritor

O Rogério de Moura, vive às birras com jogadores de futebol. Disse ao meu médium cinematográfico que me incorpora para que fosse tolerante com nossos boleiros, afinal, são pessoas, em esmagadora maioria, que não tiveram acesso a algum meio que lhes proporcionasse bagagem cultural. Mas, quando alguém quer criticar, não tem jeito. E lá vai o Rogério descer a lenha: "É um absurdo que os jogadores de futebol chamem seus treinadores de 'professor'!", esbravejou. O Rogério é um filho de professor e acompanhou a total esculhambação dessa profissão com o passar dos anos. Hoje em dia, se o professor for rigoroso com um aluno, se estiver em escola particular, será repreendido pela diretoria, se estiver no ensino público, será ameaçado de morte.

E o Rogério continua disparando suas críticas a nossos jogadores: "Como é que pode um sujeito como o Lúcio, jogando na Europa, no tal do chamado Primeiro Mundo, ganhando milhões, jogando na Seleção Brasileira, diante dos repórteres, não conseguir pronunciar uma frase em português correta? É tão difícil para jogadores de futebol milionários investirem 0,001 por cento em aulas particulares?"

Mais essa: "A maioria dos jogadores negros brasileiros não assumem a negritude. Os mais clarinhos, então, fingem que são brancos!”

Lembro-me do Carlos Alberto, craque da espetacular Seleção de 1970, quando técnico, chamar um juiz negro de macaco. E tudo ficou por aí. Mas é só olhar par ao Carlos Alberto para ver que sua descendência não é sueca, tampouco escandinava. O mesmo se aplica ao Vanderlei Luxemburgo. Mas são todos brancos, quem sou eu para desmenti-los.

E mais essa: "Os jogadores de futebol se orgulham de ostentar sua baixa escolaridade, como se fosse um diploma. Ter orgulho de ter uma origem humilde, tudo bem; mas a partir daí, além da sua carreira, tem que dedicar uma fração de seu tempo para aprender e progredir e não continuar marionete de cartolas e empresários."

O Rogério continuou salivando: "Jogador brasileiro perdeu o prazer em jogar ou sabe que tem pouco talento, porque passou a dedicar seu futebol para enganar o juiz. É um show de mergulhos, simulações de falta e agressão. Sem dizer o tempo que perdem reclamando com o juiz no lugar de jogar. Cada jogo de futebol é uma aula de malandragem e desonestidade para milhões assistirem, aprenderem e cultuarem. Nosso futebol já foi o melhor do mundo, hoje é um futebolzinho de quinta categoria. Com muitos craques da bola fabricados pela mídia mas que não chegariam aos pés do Zico, muito menos de Pelé!"

Enfim, depois de deixar o ofegante Rogério encerrar seu desabafo, normalizada a respiração, pude incorporar no resmungão e tocar meus afazeres. O primeiro: ler o jornal, sentado numa cadeira de balanço na varanda da casinha de sapê.

Imensurável foi minha surpresa ao ler uma matéria sobre Paulo André, jogador do Corinthians que estava lançando... Será isso mesmo! Sim, é verdade! Um livro!

Pesquisei sobre o Paulo André na Encruzilhadapedia, constatei que se tratava de uma surpreendente exceção nesse mar de boleiros que ostentam com orgulho sua indiferença quanto ao enriquecimento cultural. Ele costuma a ser considerado o intelectual do grupo. Estudioso, fã de literatura e de Filosofia. Não duvido que leia Freud e Heidegger na concentração, antes de disputar um clássico.

No lançamento, feliz com o resultado do livro, Paulo André comemorou a presença de dois colegas de time e disse, rindo: “Só de trazer o Adriano e o Sheik em uma livraria já foi uma grande vitória”.

Concordo. Gostaria de estar errado, mas tenho certeza que não: duvido que os dois amigos citados pelo jogador-escrito tenham entrado numa livraria mais de duas vezes em suas vidas.

O Paulo André tem um blog: http://pauloandre-13.blogspot.com/

Não existe jogador que, contratado por um time como o Cotinthians, Palmeiras, São Paulo, Flamengo, Grêmio, também não pense na fama. Fama que poderá lhe trazer contratos publicitários milionários. Evidentemente, veremos jogadores de futebol anunciando materiais esportivos, isotônicos, barbeadores, xaropes e camisinhas. Jogador em anúncio de livraria vai ser difícil.
 
Mas, sem querer, também usam a fama para que educação e cultura é coisa dispensável.

Felizmente, o Paulo André é uma exceção.

Eparrei!
 

Rogério de Moura
 
 

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