O enterro do covarde (viver dá trabalho)

O sujeito vinha caminhando pela estradinha até que, no horizonte, surgiu um grupo de pessoas. Notou que traziam um caixão. Como ele e a "procissão" caminhavam em direções opostas, um momento, iriam se cruzar. E se cruzaram.
 
Ao passar pelo caixão, notou que o morto estava vivo. Não acreditou e pediu que interrompessem a caminhada para que pudesse conversar com o "morto".
- Você está vivo!
- Sim estou.
- Mas estão indo enterrá-lo.
- É verdade.
- Porque viver dá trabalho. Eu um sujeito triste, vivo deprimido. Não tenho um amor na vida, apesar de ser separado várias vezes. Não vivo a plena felicidade, não tenho sonhos, quando desejoalgo, não consigo realizar.
- Não te aflijas, amigo. Eu sou o Senhor dos Desejos, eu irei conceder todos os desejos que tiveres. Todas as carências que você tiver, serão resolvidas. Tudo o que você quiser, será realizado.
- Sério?
- Sim. Mas, claro, como nada vem de acontece do nada, você vai ter um pequeno trabalho: você terá que sair daí e viver.
- Viver? Mas viver dá muito trabalho. Prefiro o conforto do caixão.

E completou:

- Segue o enterro!

E foram embora.

Viver requer dor, requer pés descalços de vez em quando, requer vento na cara, tapas no rosto. É mais cômodo ficar entre quatro paredes imaginando uma vida que poderia ter sido plena. Viver sob o conforto da quatro paredes é mais tentador. Também é mais cômodo viver na lamentação, sob lágrimas, sob a pena alheia. Afinal, viver dá trabalho. Melhor ser um morto.

Rogério de Moura




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