Se aquele banco de praça falasse...

Se aquele banco de praça pudesse falar...

Conversaria sobre os sonhos que o mendigo teve quando dormiu sobre ele. Contaria também que, assim que acordou, o mendigo decidiu varrer a praça, sem que ninguém pedisse.

Descreveria com detalhes a discussão que teve um casal prestes a se separar. Comentaria sobre a pena que sentiu ao ver uma família faminta sentar-se sobre ele e repartir um marmitex.

Contaria sobre um assalto que ocorreu à sua frente e as lágrimas da senhora vítima do assalto, que caíram sobre a superfície do banco e secaram lentamente.

Narraria o corre-corre das pessoas assim que começou a chover. Lamentaria um atropelamento que aconteceu na rua em frente.

Puxaria conversa com os faxineiros que diariamente o mantém limpo sem que ninguém lhes dê importância.

Contaria sobre o lento momento em que uma taturana passeou por sobre sua superfície. Falaria sobre uma violenta luta entre duas pombas brancas, diante da indiferença dos pedestres apressados.

Mas o banco da praça não podia falar. Restou-lhe apenas embalar o sono do mendigo que retornou quando a noite caiu.




Rogério de Moura

2 comentários:

  1. Três invisíveis, o banco, o mendigo e o gari! Nos esquecemos de tudo, pois "é a alma dos nossos negócios".

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  2. A mesma praça . . .
    O mesmo banco . . .
    tudo é igual . .

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