Emprestando dinheiro aos amigos


Certo dia, ele pensou em alguns amigos que há tempos não via.

Primeiro, pensou em Fulano, um pobre sujeito que sempre vinha visitá-lo aos domingos. Sujeito tão pobre que, de segunda a sábado comia pão com arroz. Feijão, se tivesse sorte. Mas, diante do anfitrião que oferecia um tenro bife, começava a fazer exigências se o bife estava bem ou mal passado. Um dia, emprestou para Fulano um dinheiro e desde então não mais o viu.

Depois, lembrou-se de Cicrano, que também vinha visitá-lo para falar da vida das outras pessoas. Aconteceu a mesma coisa: desde que um dia emprestou dinheiro para Cicrano, nunca mais o viu.

Teve também Beltrano, que vivia entre tapas e beijos com a esposa numa relação intensa de ódio e amor. Às vezes chegava contente, contando suas peripécias com a mulher. Noutras, mostrava as marcas da última briga estampadas no rosto. Depois que lhe emprestou dinheiro, na última vez que o viu, isso há muito tempo, Beltrano dobrou a esquina assim que avistou o amigo credor.

Houve algumas moças da vizinhança com quem teve alguns casos. E, não é que elas desapareceram tempos depois dele ter lhes emprestado uns trocados?

Ficou pensando nesses amigos. "Onde estarão?" Também pensou no dinheiro que perdeu com eles. A grana somada daria um bom saldo bancário.

Então, veio a Senhora Epifania que o iluminou com a seguinte conclusão: "Nunca mais você esteve na presença dessas pessoas. Não foi perda de dinheiro. Foi investimento."

Eparrei!

Rogério de Moura




Um comentário:

  1. O Paulo Vanzolini tem uma, parecida . . .
    Na praça clóvis, me bateram a carteira/ tinha vinte mil réis e teu retrato/vinte mil, eu confesso, achei barato/Só prá me livrar de teu retrato

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