As palavras esquecidas


A alegação é de que a língua evolui e que novas palavras vão surgindo.

"Vossa mercê" evoluiu para "vossemecê", a seguir "vosmecê", depois "vancê" e, finalmente, “você” que, para muitos hoje em dia é a extremamente preguiçosa sigla “vc”.

Raramente, alguém diz que "compareceu". O sujeito simplesmente "foi".

O que eram gírias, aos poucos, foram ganhando espaço nos dicionários, discretamente ou a força. A língua inglesa, por exemplo, é mestra em encurtar frases com poucas palavras e incontáveis apóstrofos.

Quase ninguém usa "elucubrar", "titubear", "aquiescer", "apascentar", "exaurido", "cambalacho", "amofinado", "gozoso", "pusilânime", "admoestar", "pesaroso", "flamejante", "cambaleante", "estirpe", "meneio", "enobrecido", "supimpa"e "enamorado". As palavras "âmbito", "âmago" e "sagaz" são outras que, quase esquecidas, começam a agonizar, necessitando de atendimento médico frequente.

No entanto ("entanto", outra palavra que tem andado adoentada), o trágico é que a palavra "perdão" também foi sumindo... sumindo... Finalmente, desapareceu. Logo em seguida, foi a vez da palavra "desculpa".



Quem foi o meliante que decidiu banir a palavra "contusão" dos esportes? E todos seguiram o exemplo. Agora é "incômodo". Fulano sentiu um "incômodo muscular", "cicrano sentiu um incômodo no quadril". E a palavra "contusão" é outra que foi internada às pressas na UTI vernacular.

Tristes palavras! Nascem, desenvolvem-se, tornam-se jovens e arrogantes, fazendo pouco caso das palavras mais velhas. Mas o destino é o mesmo: envelhecem, adoecem, morrem e são enterradas no dicionário, que nada mais é do que um cemitério para palavras  olvidadas.
Ou, um cofre cheio de cédulas sem valor.

Pobre "desculpa"! Pouco proferida, ninguém se deu conta da lenta morte do verbete "perdoar". Tampouco ("tampouco", está aí outra palavra pouco lembrada) alguém se preocupou em ressuscitá-la ou, ao menos, substituí-la, mesmo através de uma gíria.

E, ninguém mais pediu perdão, por pior que fosse o engano, a traição ou o delito.

Agonizando estão as palavras "sobretudo", "honestidade" e... havia outra... Não pode ser "olvidar", pois utilizei logo acima. Esqueci! Com certeza, uma palavra tão morta que não consegui me lembrar.

Por outro lado, as palavras "ódio" e "morte"...

Essas continuam vivas e gozando de boa saúde na boca e no inconsciente das pessoas.


Rogério de Moura



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