Futebol versus Cidadania

Seus nomes são José, João e Pedro. Mas poderiam ser Alfredo, Gilmar e Erasmo; Geraldo, Leonardo e Cláudio; "X", "Y" e "Z".

São fanáticos torcedores de um time de futebol. Aqui chamado de Flarintians. Mas poderia ser Corinthians, Flamengo, Palmeiras, São Paulo, Vasco, Atlético, XV de Jaú...

Comemoram e bebemoram quando seu time de coração ganha. Choram feito bebês quando perde. Do time, sabem tudo: data de inauguração, maiores artilheiros, títulos, relação de craques de todas as épocas que por lá passaram. Os móveis de casa dividem espaço com bolas, flâmulas, miniaturas de troféus, pôsteres de conquistas, matérias de jornais e uniformes.

Moram num bairro humilde de periferia. Várias ruas desprovidas de saneamento básico, esquecidas pelas autoridades. Algumas, nem iluminação têm. Quando chove, é uma correria para salvar os móveis e algum pertence de valor.

Sob o protesto das esposas, reservam parte do salário para ir ao estádio nos finais de semana. E, quando o time perde três jogos seguidos, vão à sede do clube protestar e pedir providências à diretoria.

Nas vizinhanças dos estádios e dentro deles, já envolveram-se em quebra-paus antológicos. Dos quais se recordam aos risos.

Quando um novo jogador é anunciado como nova contratação, lá vão José, João e Pedro vasculhar a vida pregressa do novo reforço: os vícios, as estatísticas de eficiência, se o jogador curte a noite, se é atleta de Cristo.

Um certo jogador, chamado Zequinha, foi anunciado como a nova contratação do time. Zequinha de onde? Quem era esse tal Zequinha? É bom? Ficará só na promessa?

Como em todas as vezes, lá foram José, João e Pedro pesquisar tudo sobre o boleiro e promover debates acalorados sobre se o atleta merece ou não vestir a camisa do clube.

Como em todas as eleições, lá vão José, João e Pedro votar em qualquer picareta, sem ao menos querer saber o quão picareta é o candidato.

O times do coração de João, José e Pedro segue sua rotina anual: uns jogos ganha, outros perde; uns campeonatos ganha, outros não vence. E assim vai tocando sua existência.

As ruas onde moram José, João e Pedro também continuam as mesmas.

O candidato em quem votaram também continua o mesmo. Recentemente, envolveu-se em outro escândalo. Mas os três fanáticos torcedores não pretendem ir a Assembléia Legislativa protestar. Dizem que não é com eles.

Rogério de Moura 




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