O gatinho e o cientista maluco


Um conto de terror infantil


No topo de uma montanha existia um casarão no qual morava um cientista maluco que tinha um laboratório que ocupava quase todo o lugar.

A única companhia do insano cientista era a de um gatinho branco chamado. Sardinha. A cor dos pelos do gato é branca e isso deve ser pelo fato de que, geralmente, é a preferência dos cientistas que vivem em casarões. Ou talvez porque eles tenham medo de gatos pretos.

Nos momentos em que não estava inventando coisas malucas, o cientista ficava em sua grande sala repleta de móveis soturnos e livros sobre ciência. Gostava de gastar esses momentos contemplando o gatinho a brincar com novelos de lã, arranhar o sofá com suas garras. Gostava também de sentir o calorzinho do felino enquanto o animal aninhava-se em seu colo, ronronando.

No entanto, a presença do gatinho não mais conseguia aliviar a sensação de solidão que dia sim dia não assolava o cientista. Durante sua vida, nunca conseguiu que nenhum ser humano lhe fizesse companhia naquele soturno casarão por mais de algumas horas.

Um dia, o cientista teve a idéia de criar um equipamento que o possibilitaria conversar com o gatinho, entender o que fala e ser pelo bichano compreendido.

Foi o que ele fez. Invento inventado, lá estava o aparelho que continha duas espécies de penicos conectados a uma porção de fios. Um penico grande, para caber em sua cabeça e um peniquinho para caber na cabeça do gatinho.

Tudo pronto, equipamento ligado, chegou a hora do barulho dos motores e do brilho de choque iluminar todo o casarão. Quem estivesse assistindo a isso tudo não saberia se o forte brilho saía do aparelho que o cientista inventou ou da noite de tempestade cheia de raios e trovões. Todo topo de montanha que tem um casarão com um cientista maluco morando tem disso: sempre tem noite de tempestade cheia de raios e trovões.

Depois de algum tempo, lá estavam cientista e gatinho conversando. O cientista falava sobre mulheres e inventos científicos. O gatinho sobre bolas de lã, peixes no aquário, passarinhos na gaiola e sobre benefícios de se lamber.

Horas de prosa se passaram. Infelizmente, o assunto de um não interessava ao outro. Então, o cientista mudou o rumo da prosa:

- Você sabia do poder de destruição dos gatos?

- Não! Eu tenho poder de destruição?

O cientista pensou que o poder de destruição dos gatos seria um assunto prá lá de científico e renderia uma conversa na qual os dois se entendessem. E desatou a falar da potência do salto do gato, da agilidade felina e do grau de destruição que suas garras causariam em um ser humano. O gato ficou espantado com tudo aquilo:

- Posso tranquilamente matar uma pessoa? - perguntou o felino.

- Pode! Fácil, fácil! Sorte que os gatos não sabem disso. Eles poderiam ser perigosos. Um gato pode, quando não estiver contente com alguém, até matar uma pessoa. Qualquer pessoa. Bastaria querer e... Depois de muitos rasgos, lá estaria o ser humano mergulhado numa poça vermelha, sem chances de sobreviver.

O gato cravou um olhar malicioso na direção do cientista.

- Qualquer pessoa mesmo?!

E, qualquer pessoa que estiver passando pelo vale onde fica a montanha onde tem o casarão aonde mora o cientista maluco pode ouvir um miado feroz de um gato que está, há muito tempo, trancado num sótão.

Quem algum dia puder utilizar a máquina inventada pelo cientista maluco para entender o que os gatos dizem, saberia o que aquele miado estava querendo dizer:

- Eu vou te matar, filho da pu...!

A frase pararia no meio do palavrão. O cientista maluco não programou a máquina para traduzir palavrões felinos.

Rogério de Moura 


 

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