Até que a dose os separe


Erasmo e sua esposa. Ele gostava de beber. Muito. Ela ficou doente. Câncer. Os médicos, disfarçadamente, recomendavam ao marido para que já providenciasse um caixão, duvidando haver alguma chance dela continuar viva dentro de, no máximo, alguns poucos meses.

Em desespero, Erasmo foi à igreja de Nossa Senhora de Fátima, o mesmo nome da esposa, para fazer uma promessa: se a ela se curasse, pararia de beber.

E o milagre aconteceu. Ela não apenas se curou, mas continuou uma mulher belíssima, sem a mínima sequela do que havia sofrido. Erasmo parou de beber. E assim, o casal viveu feliz por muitos anos.

Ao final desses anos felizes, as finanças de Flávio não iam muito bem. As discussões conjugais, que eram raras, começaram a se tornar frequentes. Houve o inevitável: Fátima abandonou o marido. 

Quanto a Erasmo... Ele voltou a beber. 

Só Deus sabe a respeito das tentações e privações que ele enfrentou ao longo dos anos de abstinência, firme na meta de cumprir a promessa feita. Festas, churrascadas, feijoadas, comemorações, aniversários, finais de futebol, ansiedade, alegrias, tristezas... No boteco, rodeado de amigos, ele pensa que devia agradecer a esposa por tê-lo abandonado.

Rogério de Moura



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