Na Esquina do Além, onde os espíritos se encontram,
formou-se uma rodinha curiosa. Era um encontro de espíritos de inventores
arrependidos.
Após suas invenções, eles desencarnaram e encarnaram outras
vezes. Mas, apesar de outras experiências, não conseguiram esquecer de que
algum dia criaram inventos para o bem da humanidade que, no final das contas,
afinal, vai entender os seres humanos, tudo foi convertido para o Mal.
Estavam lá, em lamúria coletiva, o espírito que foi do
Santos Dummont, que inventou o avião; uma alma atormentada por ter visto o seu
invento ser utilizado em larga escala para bombardeios durante as guerras.
Estava lá o Nobel, que batizou o Prêmio da Paz que,
posteriormente, agraciou pacifistas como o Arafat, alguém com milhares de
mortes no currículo.
Estavam lá o Einstein e um pobre coitado que fundou a
primeira torcida organizada de futebol.
Estava lá a alma de um chinês que inventou a pólvora.
Em surdina, extremamente envergonhado, surgiu o Oppenheimer,
uma pobre alma atormentada de um americano intranquilo que fez a bomba atômica.
O espírito de Steve Jobs está, ainda, ponderando sobre o
quanto que o computador ajudou a humanidade e, ao mesmo tempo, está
distanciando as pessoas. Todas estão se trancando em casa, virtualizando a vida
e resumindo todo o contato humano às redes sociais.
Um bicão nessa reunião foi o espírito do arquiteto Thomas
Andrews, que construiu o Titanic.
Espíritos de todas as épocas e encarnações, inventores,
cientistas, matemáticos, físicos e biólogos se juntaram nesse inusitado
encontro.
Todos juraram não mais inventar nada em qualquer encarnação,
na intenção de que nada caia em mãos humanas. Uma hora ou outra, qualquer coisa
inventada para o Bem será utilizada para o Mal.
O espírito de Gutemberg, o inventor da imprensa também
estava lá. Não porque o livro tenha trazido algum prejuízo à humanidade e sim
pelo desprezo que as gerações atuais tem por essa invenção.
Estavam lá muitos inventores que conceberam pensando em benefício da humanidade. Deu no que deu.
Estavam lá as almas das pessoas que participaram da
Revolução Francesa e inventaram o conceito de direita e esquerda. Eles afirmam
que, no Brasil, por exemplo, esquerda e direita são a mesma porcaria. Políticos
da direita roubam e os da esquerda também. Ambos os lados chamam o outro de
corrupto. E, enquanto o povo e os intelectuais perdem tempo discutindo qual o
lado rouba mais, eles continuam roubando e rindo de todo mundo.
Para o próximo encontro, criadores de religiões ou líderes
religiosos prometem participar.
Eparrei!
Rogério de Moura
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