Que fim levou o 7 de Setembro?

Chegando em 16 de Setembro, o mediu cinematográfico Rogério de Moura, que me incorpora de vez em quando, sentiu a sensação de ter esquecido algo. Como alguém que sai apressadamente de casa e tem a sensação de que deixou algo em casa. Vasculha nos bolsos, a carteira está lá, e também o celular, as chaves. Põe a mão no rosto e vê que não esqueceu os óculos. A cabeça também estava no pescoço. O que havia esquecido?

Subitamente, lembra-se: o 7 de Setembro!

Cadê o 7 de Setembro? Onde foi parar? Caiu no chão durante a correria? Ficou no vão do sofá, atrás da poltrona? No chão do ônibus ou do metrô? Quem sabe o encontramos no Achados e Perdidos, junto com dentaduras, óculos, guarda-chuvas?

Passamos pelo sétimo dia de setembro e ninguém tocou no assunto.

Hoje é dia 16 de setembro. E o mês de Setembro, pouco tempo atrás, evocava a algo que hoje em dia era remoto: o mês da Independência, do "Ouviram do Ipiranga", o quadro do Pedro Américo, no qual Dom Pedro II levantando a espada em meio aos soldados, do caboclo quase seminu assistindo a cena.

Sabemos que não foi bem assim. Que o casebre do Ipiranga não estava lá, que o Dom Pedro II não estava vestido daquele jeito, que, segundo alguns historiadores, carecia de uma diarreia fortíssima no dia e no momento histórico.

Para muitos, principalmente os mais jovens, essa data representa repressão, Ditadura Militar, professores opressores, obrigatoriedade de se decorar o Hino Nacional e entoá-lo com a mão direita sobre lado esquerdo do peito.

Muitas pessoas hão de se lembrar que, quando criança, era uma data importantíssima. Tinha os Dragões da Independência, o filme do Tarcísio Meira fazendo o Dom Pedro II, desfile, parada, Hino Nacional e o escambau. Todo mundo dizia, de boca cheia: "Semana da Independência". Os professores pediam trabalhos escolares, redações e... É claro, o escambau.

Passou tão despercebido que nem acho que nem a imprensa tocou no assunto.

O dia 7 de Setembro passou para a galeria das datas e lembranças perdidas na memória.

Ou, como diria o Lula: "Nunca, na história deste país, o 7 de Setembro..."

Voltando ao mundo espiritual, no Beco do Além, na Esquina das Almas Angustiadas, encontrei o Pedro Américo, autor da pintura da Independência do Brasil. Estava triste pelo esquecimento de tão célebre data. Perguntei para ele não pintou a cena da Independência tal qual ela aconteceu na realidade. Ele foi lacônico:

"Liberdade poética. Mente-se descaradamente para se tornar uma situação mais atraente. Os políticos sempre utilizam isso durante as eleições."


Eparrei!

(Rogério de Moura)



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