Coisas entre o Céu, a Terra e um banco de praça

Ninguém percebeu:
Um mendigo acordou, em meio a farrapos, entulhos ressaca e fome.
Despertou e bocejou a vida.
Agradeceu ao banco de praça onde dormia
Varreu a praça e foi embora.

Ninguém percebeu:
Um garoto tentando roubar os celulares de dois meninos,
Uma família humilde dividir uma refeição,
Crianças de rua brincando com materiais escolares catados no lixo,
Um velho tocador de violino, uma dupla de repentistas,
Um jovem casal de namorados surpreendidos com a gravidez da garota.
Um traficante de drogas fazendo negociação,
Um empregado, um desempregado
Um bêbado usando o vento como muleta.

Ninguém percebeu:
Uma taturana arrastando-se pelo tronco de uma árvore,
Uma procissão de formigas pela rachadura da calçada,
Uma planta nascendo em meio ao capim de um buraco.

Ninguém percebeu:
Que, quando choveu, um viralatas abrigou-se debaixo do banco 
Cumprimentando um casal de pombos.

Ninguém percebeu:
Nem polícia, nem políticos, nem o povo.
À noite, o mendigo retornou, 
com seu mundo amontoado em um carrinho de supermercado enferrujado,
Desejou boa noite ao banco e dormiu.

Ninguém percebeu.


Rogério de Moura




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