A Cidade das Coisas Perdidas

Perdi outro guarda-chuva e, dessa vez, não ignorei e decidi procurá-lo.
"Vá à Cidade das Coisas Perdidas e esquecidas", disse um velho mestre e sábio.
Lá fui eu, decidido e determinado.

Cheguei de trem. Outra coisa que está desaparecendo. Percorri pela Avenida dos pregadores de roupas, passei pelo bairro das moedas, pela Vila das Ideias. Em uma praça, havia uma imensa lágrima de concreto. Era a Praça do Sorriso desaparecido. Logo adiante, o Monumento das Promessas não cumpridas.

Caminhei e caminhei. 

Encontrei, caminhando, assustados, Cães, gatos e cochilos despertados. 
Avistei um conjunto habitacional de chaves, brincos, bolsas, carteiras e anéis de casamento. Espalhados pelas ruas, feito folhas secas ao vento ou capim na fresta das calçadas estavam os dias, os anos e os séculos.

No céu, vários por do sol. É para cá que eles vêm quando a noite chega.
Havia um bairro habitado somente por promessas esquecidas de políticos. 
Pouco antes de chegar no Beco dos Guarda-Chuvas Esquecidos, passei pela Rua das Grandes Paixões Perdidas, fiz meia volta e fui embora.

Acredito que meu guarda-chuva está por lá, sem dono, num boteco, feliz da vida, com outros guarda-chuvas., cantando um samba composto num pedaço de papel que algum compositor perdeu.

(Rogério de Moura)


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