Onde encontrar a esperança?

Um sujeito aproximou-se e, aflito, perguntou-me se eu vi a esperança.
Bebendo da agonia em seu olhar, disse o que sabia:
havia visto sim, não fazia muito tempo:
Estava, um dia desses, numa praça,
cochilando em um dos bancos,
depois, jogou migalhas de pão aos pombos,
pregou, com a bíblia nas mãos,
tocou com repentistas,
jogou dominó com idosos,
correu com as crianças.
Noutro dia a encontrei numa fila de banco;
Na mesma noite, estava no corredor de hospital;
Depois, na fila do sopão.
Certo dia a encontrei caminhando à margem de uma estrada
carregando uma cruz entre romeiros.
Noutra semana dia, estava em um ponto de ônibus.
Uma vez, passou por mim, fingindo não me conhecer.
Da última vez em que a vi, estava numa esquina qualquer
esfarrapada, mal cheirosa, olhar atormentado

gritando frases desconexas a quem passasse.

(Rogério de Moura)


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