Torresmo de Porco do Butão

Da varanda da minha casinha de sapê, na Zona Leste, com meu lap-top-pangaré-vira-latas, com Windows 98, este jovem preto velho, incorporado pelo Rogério de Moura, observava as coisas cotidianas da vida. No quintal de casa, uma aranha embalava uma mosca em sua teia. Minutos antes, essa mosca pousou na minha cabeça, depois no meu nariz. Incomodado, peguei minha sandália de couro e aproximei-me sorrateiramente do inseto enquanto ela repousava sobre a madeira da varanda. Antes que eu pudesse lhe tascar uma “chinelada”, do nada, surgiu a aranha, saltando sobre a mosca desavisada. Quase que este preto velho havia estragado a refeição de alguém. Também observava um gato abocanhando um pombo. Observava também um acidente de automóvel diante do portão, envolvendo dois motoristas bêbados. Aliás, dirigir bêbado é um esporte nacional. Um esporte do qual os adeptos adoram e se recusam a abandonar.

Foi quando surgiu meu grande amigo, o Saci-Pererê. Como as matas  foram invadidas por condomínios de luxo  ou invasões sem luxo, o saci ficou sem lar. Resolveu viajar pelo mundo. Dessa vez, passou pelo Butão, um reinado situado no Himalaia.

Trouxe-me torresmo, feito do porco butanês. No Butão, é terminantemente proibido fumar cigarro. Maconha, então, nem pensar. No entanto, é liberado alimentar os porcos com a cannabis.  Algo que uma é tradição local.

Sou um torresmista de carteirinha, filiado ao Sindicato dos Comedores de Torresmo do Estado de São Paulo.  Mas fiquei com receio de provar o torresmo butanês. O saci insistiu que não havia perigo e não resisti. Realmente, o torresmo estava delicioso. Foi uma sensação inigualável sentir a textura crocante da crosta mesclar-se à maciez da parte interna. Os botecos daqui costumam colocar muito sal em nossos torresmos brazucas. Ao contrário dos torresmos butaneses, que privilegiam a variedade dos temperos. Os Bar do Pedrinho, ao lado do meu casebre, são o que eu posso chamar de torresmo de sal. 

Tão logo provei o torresmo butanês, o saci desapareceu por entre os arbustos, não sem antes despedir-se com uma gargalhada. E eu segui observando o cotidiano diante da minha varanda. A aranha costurava um vestido de noiva para a mosca, a pomba bicava o gato e duas motoristas bêbadas dançavam em cima de seus carros enquanto tiravam as roupas. 
Eparrei!

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