Surge mais uma vítima do preconceito: a vítima


A culpa é da vítima. Afinal...

"Morreu? Quem mandou reagir?"

"Foi roubado? Quem mandou dar mole numa esquina."

"Enganado? Surrupiado? Ludibriado? Quem mandou ser trouxa para cair no golpe?"

"Um bueiro da Light explodiu na sua cara? Quem mandou estar no lugar errado e na hora errada?"


Se o sujeito for atropelado, deveria ter prestado atenção antes de pôr os pés na rua. Não o motorista, que geralmente está bêbado ou falando ao celular. Aliás, dirigir bêbado é um dos 'esportes' prediletos do brasileiro. 

 Mesmo que o infeliz seja atropelado na calçada, a culpa é do atropelado. O motorista cometeu apenas um mero deslize. Perdoável, afinal, em nossa cultura, o sujeito só passa a ser cidadão a partir do momento em que tem um automóvel, ou está conduzindo um. Pedestres e ciclistas são a escória da humanidade.

Um novo tipo de preconceito vem crescendo no Brasil: o preconceito contra a vítima.

Geralmente, todas as iniciativas jurídicas estão indo na direção de se proteger o autor do crime, de se diminuir a pena, de dar ao autor do crime mais indultos e facilidades sob o pretexto de "ressocializá-lo".

Um menor que tenha matado quantas pessoas que seja, assim que expira o prazo de sua pena como menor, tem todo seu currículo de atrocidades zerado. Além disso, depois de um ano, o pior dos bandidos vira santo e no inconsciente brasileiro está perdoado.

Sem dizer os trâmites jurídicos que fazem com que uma pena não seja cumprida até que ela expire.

E eu pergunto, e as vítimas? Vítimas de roubo, vítimas do Bateau Mouche, vítimas da saidinha de banco, sequestros relâmpagos, estelionatos, Telefônica, Eletropaulo, Light, Sabesp...

E o que vemos, hoje em dia, é o seguinte panorama: estelionatários e empresas com péssimo serviço fazendo as vítimas passaram horas penduradas no telefone ou enfrentarem filas e todo interminável calvário jurídico para reivindicar seus direitos, criminosos ameaçando e zombando das vítimas, as horas e a humilhação que terá de enfrentar para assinar um Boletim de Ocorrência, delegados culpando as vítimas, policiais culpando as vítimas, advogados dos criminosos execrando as vítimas, autoridades públicas responsabilizando as vítimas pelo que elas próprias sofreram.


Houve uma trágica e incoerente inversão de valores: vitimizou-se o autor do delito e "criminalizaram" a vítima. Ela é a responsável. É mais fácil culpar a vítima do que tomar as devidas providências para que estelionatos, golpes, delitos e demais crimes não ocorram.

As vítimas tornaram-se escória da sociedade junto aos órgãos governamentais assim que se tornam, é claro, vítimas. Lamentavelmente, suas vidas valem menos do que o criminoso.

Para a Justiça Brasileira, ressocializar a vítima está fora de cogitação. Ela que se vire com seus traumas, sua mágoa. Ela que engula sua dor e que tente reconstruir a vida. Isso, claro, se estiver viva.

Eparrei!


Um comentário:

  1. Isso sem contar uma nova onda que está se tornando tsunâmica: a alegação de insanidade mental do autor.

    Eu acho que estamos exagerando nos direitos individuais. Eles não podem nunca ser mais do que os coletivos, sob pena de acirrarmos a barbárie (que está voltando com toda força). Abraços. Paz e bem.

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