O livro invisível

Como todos os dias, ele entrou na lanchonete com o seu livro. Só que, desta vez, ao pagar ao caixa o seu pingado e pão com manteiga, esqueceu o livro no balcão. Até notar o esquecimento, gastou meia-hora. Quando se deu conta do esquecimento, retornou, gastando mais duas horas de trânsito.

Duas horas e meia depois, estava de volta à lanchonete, certo de que seu livro havia sido levado por alguém. Um leitor fã daquele autor, alguém que gostasse de livros, de conhecimento, de enriquecimento cultural. Que nada! Lá estava o livro no balcão, na mesma posição.

Refez, em sua imaginação, a trajetória do livro durante o período de "esquecimento" no balcão da lanchonete. Ninguém deu o mínimo valor àquele objeto que havia sido razão de cultura, conhecimento, descoberta, risos e lágrimas de pessoas. 

E a felicidade por reencontrar o seu livro cedeu lugar à decepção. Preferia que tivessem levado o seu livro embora. No entanto, seu livro estava lá, na mesma posição em que havia deixado, não demonstrando sinais de ter sido tocado alguma vez. 

Ninguém se interessou pelo livro, nem ao menos em folhear a capa, em ler a orelha, em conhecer um pocuo do conteúdo. O livro teve menos importância que o porta guardanapos de papel ou a embalagem de mostarda e "catchup". O livro valeu menos que o paliteiro.

Fosse um celular, não importa quão ultrapassado modelo, não teria resistido a cinco minutos do balcão. Uma mão rápida o teria levado ao bolso. Mas, o livro, era invisível.




Rogério de Moura







Um comentário:

  1. numa cultura oral, como a nossa, todos os livros são invisíveis.
    Cesar Carvalho

    ResponderExcluir