Nas asas de um avião de papel

Folha de papel dobrada e nas mãos do pequenino nasceu um avião.
A janela se fez aeroporto e o miúdo aeroplano, tatuado de rabiscos de giz de cera
cada vez mais alto voava, escalando cada degrau do vento.
Contornou edifícios, desviou-se de pombas e antenas.
Viu prédios se espremendo nos quarteirões,
Viu carros se espremendo nas ruas,
Viu pessoas se espremendo nos prédios, nos carros e nas ruas,
Viu cada janela guardar sua pequena história:
Um casal de velhinhos assistindo televisão,
Uma bebê chorando no colo da mãe,
Um jovem casal discutindo coisa qualquer.
Da janela de sua casa, o menino era passageiro
Com o bilhete de passagem que ia imaginando.
Nas asas do pequeno avião conheceu culturas, idiomas, comidas
Faunas e floras que nunca havia imaginado antes.
Quanto tempo durou a viagem? Semanas, dias, meses... Ou apenas segundos?
Ao fim da jornada, o pequeno avião pousou.
Mal teve tempo de taxiar: o pneu de um automóvel passou por cima.
E o avião voltou a ser uma folha de papel.

(Rogério de Moura)



Ilustração: Rogério de Moura

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