"Papai Noel? Que história ridícula! Não acredito em Papai Noel! Um velhinho gordo, com um saco enorme, descendo pelas chaminés, entregando presentes! Que casa no Brasil tem chaminé!"

Foi o que me disse o Saci Pererê, assim que baixou no meu quintal. Concordei com ele mas disse para ele pegar mais leve com relação ao Papai Noel, afinal, mesmo sendo uma lenda, um mito, ele representa uma época em que o ser humano tenta ser um pouco melhor. Se consegue ou não é outra coisa. Haja visto que, na véspera de natal, para se vingar da esposa, um pai espancou e jogou o filho no rio Pinheiros.

E o Saci Pererê me provocou, perguntando sobre o meu pedido ao Papai Noel caso ele
existisse.

Pensei... Pensei... E disse a ele que tinha um sonho: ver o povo fazer em frente a uma
Assembléia Legislativa, ou do Judiciário, ou Câmara dos Vereadores, após um aumento de
salários dos deputados feitos na surdina, ou a absolvição de algum colega partidário após
mais um imenso escândalo:

A véspera de um jogo contra o Fluminense, válido pela penúltima rodada do Campeonato
Brasileiro, foi marcada por protestos de torcedores do Palmeiras. E assim seguem os
torcedores. O time perde duas partidas e eles já tentam invadir a sede do clube, pleiteando
melhores resultados.

O que eu pediria para o suposto Papai Noel seria o seguinte: que, de hoje em diante, todos
os brasileiros agissem como torcedores em relação aos nossos representantes políticos. Tem brasileiro que não exige que seu vereador coloque iluminação em sua rua, esgoto em seu bairro, mas não hesita em protestar na sede do clube diante de duas derrotas consecutivas.

Algo como ir à frente da Câmara dos Vereadores, dos Deputados Estaduais e Federais, com bandeiras, rojões, megafones e protestar, com o mesmo ímpeto com o qual invadem a sede de seus times, cada vez que a podridão exalasse seu cheiro nas entranhas da política brasileira.

"Pamonha, pamonha, pamonha! Bancada sem-vergonha!"

"Não é mole não. Se roubar, não ganha outra eleição!"

"Não é mole não! Esse vereador é a vergonha da nação!"

"Ô, seu deputado, se não trabalhar, o pau vai quebrar!"

"Tá tudo fodido! Com esse candidato, quem precisa de bandido?"

"Seu deputado, cê tá fodido, não cumpriu com o prometido!"

"A gente gosta é de bater nos corrupto;
De dar porrada e de dar paulada;
A gente bate,bate,bate forte e não quer parar;
Porque político tem é que trabalhar."


"Eu votei porque acreditei,
Meu eleito vai ter que trabalhar
Pro bem do povo que eu sei
se não dou porrada pra valer!"


Diante desse pedido, o Saci me disse que eu até poderia acreditar no "bom velhinho". OI
problema seria ele acreditar em mim.

Axé!


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Rogério de Moura cineasta negro brasileiro / Dogma Feijoada / Cinema Negro brasileiro / Bom Dia, Eternidade / Velhos, Viúvos e Malvados / Roteirista Negro / Cultura Afrobrasileira / Racismo / Negro no Brasil / Negro Brasileiro / Consciência Negra / Zumbi / Palmares / Zezé
Motta / Eduardo Silva / Mário Carneiro / Como Ser Negro no Brasil e Não Pirar / Waldir Onofre / Negro no Cinema / Grande Otelo /  Zózimo Bulbul / Jovem Preto Velho / Doutor Zumbi / Zumbi dos Palmares / A Revolta do Videotape / Rogério Moura / Amor de Mula / Um Homem Qualquer / O Moleque / Pelé / Jardim Beleléu / Machado de Assis / Lima Barreto
Fim-de-ano e as casas lotéricas encontram-se diante de filas quilométricas de apostadores sonhando em pôr as mãos nos 200 milhões de reais. Existe uma pesquisa que diz que mais de 80 por cento das pessoas que ganharam na loteria estão em situação financeira pior do que antes do prêmio.

Agora, falarei um pouco sobre estatística.

Segundo a Encruzilhadapédia, Estatística são teorias probabilísticas para explicar a frequência de fenómenos e para possibilitar a previsão desses fenômenos no futuro.
Ou seja, segundo a Estatística, quanto mais o sujeito dirige bêbado (aliás, a grande paixão dos brasileiros depois do futebol) mais o sujeito tem de causar uma catástrofe no trânsito; quanto mais o sujeito fumar, maior sua chance de ter um câncer no pulmão; quanto maior a frequência de relações sexuais sem camisinha, mais possibilidade o sujeito tem de pegar uma DST e por aí vai.

Pelo menos, é o que diz a Estatística. Segundo a Mega-Sena, a lógica é totalmente a inversa. Não quer pegar Aids? Transe à vontade, sem camisinha. Não quer ter cirrose? Passe anos enxendo a cara.

Afinal, como explicar que, tempos atrás, um prêmio de Mega-Sena acumulada de 150 milhões saiu para Fontoura Xavier, no Rio Grande do Sul.

Nada contra a estimada Fontoura Xavier e seus habitantes, pelo contrário. Deve ser um lugar pacato e fabuloso. O prêmio é quase o dobro do PIB da cidade. Mas, acredito que pelo menos UM vencedor em São Paulo, ou Rio, ou Porto Alegre, ou Belo Horizonte tinha de ter. São os lugares onde há o maior número de habitantes, principalmente a capital paulista. Além da população, há um equivalente número absurdo de casas lotéricas.

Que lógica é essa da Mega-Sena. Com certeza não é a das Estatísticas. Segundo a Mega-Sena, quanto mais se atravessar uma movimentada avenida, de olhos vendados, menos chances o caboclo tem de ser atropelado.

Porém... Esse texto está sendo escrito antes do sorteio milionário da Mega-Sena. Fico, então, na expectativa sobre de qual cidadezinha no interior desse Brasil sairá o único vencedor do concurso. Mesmo assim, comprei o meu bilhete. Vai que...

Axé!

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Motta / Eduardo Silva / Mário Carneiro / Como Ser Negro no Brasil e Não Pirar / Waldir Onofre / Negro no Cinema / Grande Otelo /  Zózimo Bulbul / Jovem Preto Velho / Doutor Zumbi / Zumbi dos Palmares / A Revolta do Videotape / Rogério Moura / Amor de Mula / Um Homem Qualquer / O Moleque / Pelé / Jardim Beleléu / Machado de Assis / Lima Barreto
Todos os séculos de escravidão e os subsequentes anos de opressão não foram tão devastadores às religiões afro-brasileiras do que o massacre promovido por algumas religiões.


Pior reputação ganhou o pobre do encosto:a maioria dos problemas são responsabilidade dos encostos. Brigou com a esposa? Culpa do encosto. Foi demitido? Culpa do encosto. Dor de cabeça? Cólica? Ressaca? Impotência? Unha encravada? O time perdeu o jogo do fim-de-semana? Tudo coisa do encosto.


Alguém chegou a presenciar um encosto fazendo mal a alguém? Já viu um encosto pedir dinheiro emprestado? Fazer previsões do tempo? Comentar sobre economia? Furar fila? Parar em fila dupla? Falar ao celular enquanto dirige? Se envolvido em alguma quadrilha de assalto a bancos? Fazer quebra-quebra junto com a torcida organizada? Matar ou roubar depois de sair da prisão depois de um indulto de Natal, Dia dos Pais ou Dia das Mães? Pedir votos? Vender rifas? Ter feito sequestro relâmpago? Garanto que não!

Se possível fosse, deveria haver uma espécie de Associação Nacional dos Encostos. Uma entidade (o trocadilho saiu sem querer) que defendesse essa classe espiritual. E, como o Antônio Rogério Magri, o "imexível" ministro do Governo Collor, ter como bordão algo como "Encosto também é um ser humano."


Axé!

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Dizem que dinheiro não dá em árvore e isso é uma falácia. Tenho um pé de dinheiro no quintal de casa, fazendo sombra a um pé de guiné e outro de arruda.

Quem tem a bênção de possuir um desses não diz a ninguém. Mas não é por medo de ser tido como uma pessoa endinheirada, sujeita às benesses de um sequestro relâmpago . Explicarei logo adiante.

Para se plantar um pé de dinheiro é preciso muito esforço e dedicação. Podar as folhas nos primeiros anos; regar sempre, pois é uma planta que bebe mais água que o ser humano nas piores ressacas.

Para se plantar, basta abrir um buraco, colocar uma nota, cobrir novamente com a terra e regar sempre. Não convém adubar muito pois afetaria o odor das cédulas.

Quando começa a brotar, é nota que não acaba mais. Tem dias em que o quintal fica coberto de dinheiro.

O problema do pé de dinheiro, e aí vem o motivo da vergonha daquele que os plantam, é que só começa a brotar depois de, no mínimo, trinta anos. E sempre será a mesma nota que se plantou.

Ou seja, não sei mais o que fazer com as milhares de notas que o meu pé de 500 mil Cruzeiros espalha pelo quintal. Aquela nota com o rosto do Mário de Andrade. Tampouco não faço idéia sobre que de destino dar para o meu pé de 1.000 Cruzados.

Tentei ver se o chá daquele dinheiro poderia curar alguma coisa. Mas o boldo, pra ressaca; a babosa, erva de santa maria, para a saúde; e o manjericão para o macarrão são imbatíveis.

Ou seja: se ninguém diz que tem um pé de dinheiro, é por pura vergonha.

Estou pensando em plantar um pé de 100 Reais, mas sabe-se lá como serão

os próximos anos.

Axé!


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