Um dos principais frequentadores do
boteco do Jair Mineirinho, que fica em frente à minha casinha de
sapê, é o Seu Elias, um simpático senhor de meia-idade. Tem um
fusquinha, anos oitenta, muito bem conservado. O que chama a
atenção da vizinhança é que poucos se lembram de vê-lo
conduzindo o seu fusquinha sóbrio, pelo menos uma vez. E assim,
Elias e seu fusquinha transitam pelas ruas da Vila Santa Isabel,
ambos movidos a álcool. Já ouvi muitos perguntarem sobre como o bom
velhinho ainda não causou nenhuma desgraça e quando ela virá a
acontecer.
Desgraça como a causada recentemente
por um rapaz de dezenove anos que encheu o latão e pisou fundo no
acelerador de seu luxuoso Carraro que havia acabado de retirar da
concessionária. Resultado: batidas, carros em chamas e uma vítima
com o noventa por cento do corpo queimado. Não é preciso dizer que
um alvará de soltura já o esperava à porta da delegacia antes que
pudesse terminar o exame do corpo de delito.
Alguém poderá dizer que falar sobre
motoristas bêbados é minha obsessão. Eu rebato, dizendo que
dirigir bêbado é uma obsessão do brasileiro. Como o futebol. E
essa obsessão não irá mudar, não neste século. Diante
disso, tenho uma luminosa sugestão: uma auto escola para motoristas
bêbados.
Consiste em auto escolas que não só
ensinariam ao candidato a motorista como dirigir um automóvel. Além de um instrutor, o futuro motorista pé na jaca contaria com um personal drinker e aprenderia coisas úteis como:
- Benefícios jurídicos de um
motorista bêbado após causar uma tragédia,
- Como ludibriar o bafômetro,
- Como se desviar de blitzes policiais,
- Métodos para curar uma ressaca,
- Como beber e dirigir ao mesmo tempo,
- A importância do boldo,
- Métodos para se ocultar frascos de
bebida dentro do carro,
- As melhores bebidas nacionais e
estrangeiras,
- A temperatura ideal da cerveja,
- O que dizer a um repórter de
televisão quando flagrado bêbado,
- A inutilidade do táxi,
A auto escola para motoristas manguaceiros poderia dar promoções como uma excursão para a
Oktoberfest.
Ao final do teste no Detran, aluno e
professores iriam, é claro, para o boteco mais próximo para a
avaliação final: qual deles cairia primeiro após várias rodadas.
Escrevinhas bem pra cacete, amigo. Continue daí que eu (nós?) continuamos daqui.
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